O Brasil conheceu muitos líderes marcantes ao longo de sua história, mas poucos são tão emblemáticos quanto Tancredo Neves. Eleito presidente em 1985, Tancredo representou a esperança de um país que buscava retornar à democracia após anos de regime militar.
Nascido em março de 1910, em São João del-Rei, Tancredo Neves foi um político e advogado que se destacou por sua atuação na transição política do país. Sua eleição foi um marco importante, simbolizando o fim de uma era de opressão e o início de uma nova fase de liberdade.
Infelizmente, Tancredo Neves não chegou a tomar posse, falecendo em abril de 1985. No entanto, seu legado permanece vivo, e sua figura é lembrada como um símbolo da luta pela redemocratização do Brasil.
Os Primeiros Anos e Formação de Tancredo Neves

No dia 4 de março de 1910, Tancredo de Almeida Neves nasceu em São João del-Rei, iniciando uma jornada que o levaria à presidência. A cidade, conhecida por sua rica história e cultura, foi fundamental na formação do caráter e das convicções políticas de Tancredo.
Nascimento e Família em São João del-Rei
Tancredo Neves foi o quinto dos doze filhos do comerciante Francisco de Paula Neves e de Antonina de Almeida Neves. Sua família teve uma influência significativa em sua vida, especialmente seu pai, que o incentivou a se interessar por política desde cedo.
Educação e Formação Acadêmica
Tancredo iniciou sua educação no Grupo Escolar João dos Santos e posteriormente estudou no Colégio Santo Antônio, dos padres franciscanos, onde concluiu o curso secundário em 1927. Sua trajetória acadêmica continuou em Belo Horizonte, onde ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.
Primeiras Influências Políticas
As primeiras influências políticas de Tancredo Neves vieram de seu pai, que o incentivou a ler discursos de importantes homens públicos. Além disso, o contato com a oposição de líderes locais ao governo estadual também contribuiu para a formação de suas convicções políticas. Esses fatores foram cruciais para moldar sua carreira política.
A combinação de sua formação acadêmica e as influências políticas iniciais preparou Tancredo Neves para uma carreira de destaque na política brasileira.
Início da Carreira Política
Tancredo Neves começou a construir sua carreira política em 1933, ao participar da fundação do Partido Popular (PP) em São João del-Rei. Essa entrada na política foi um marco importante em sua vida, demonstrando sua precoce vocação para o serviço público.
Vereador em São João del-Rei
Em 1935, Tancredo Neves foi eleito vereador em sua cidade natal, São João del-Rei, com expressiva votação de 197 votos, tornando-se o mais votado. Sua liderança foi rapidamente reconhecida, pois no primeiro ano de mandato, foi escolhido como presidente da Câmara Municipal, um cargo de grande responsabilidade.
O Estado Novo e o Afastamento Temporário da Política
O golpe do Estado Novo em 1937 interrompeu a carreira política de Tancredo Neves, resultando na cassação de seu mandato como vereador. Com isso, ele se afastou temporariamente da política e retornou à advocacia, uma profissão que lhe permitiu continuar exercendo influência em sua comunidade.
Retorno à Política como Deputado Estadual
Após a redemocratização do país, Tancredo Neves retornou à política em 1947, sendo eleito deputado estadual pelo PSD. Ele desempenhou um papel crucial na elaboração da Constituição estadual mineira e liderou a bancada do PSD, comandando a oposição ao governo de Milton Campos, da UDN. Sua habilidade política e capacidade de articulação foram fundamentais nesse período.
Ascensão na Política Nacional
Em 1950, Tancredo Neves foi eleito deputado federal, marcando o início de sua ascensão na política nacional. Essa eleição foi um marco importante em sua carreira, pois lhe deu a oportunidade de atuar em um âmbito mais amplo e influente.
Primeiro Mandato como Deputado Federal
Tancredo Neves obteve 11.515 votos em uma campanha difícil, demonstrando sua capacidade de mobilização e apoio popular. Como deputado federal, integrou importantes comissões, incluindo a Comissão de Justiça e a Comissão de Transportes. Além disso, participou da CPI que investigou suposto favorecimento financeiro do Banco do Brasil ao jornal Última Hora.
- Participação na Comissão de Justiça
- Atuação na Comissão de Transportes
- Investigação na CPI sobre o Banco do Brasil e o jornal Última Hora
Ministro da Justiça de Getúlio Vargas
Em junho de 1953, Tancredo Neves foi nomeado Ministro da Justiça e Negócios Interiores por Getúlio Vargas. Durante sua gestão, implementou várias ações importantes, consolidando sua posição como um político de confiança de Vargas.
Recebeu de Getúlio Vargas uma caneta Parker-21 com a mensagem:
“Para o amigo certo das horas incertas”
Atuação Durante a Crise que Levou ao Suicídio de Vargas
Durante a crise política que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954, Tancredo Neves desempenhou um papel crucial. Propôs que os militares rebelados fossem presos e que ele comandasse a resistência democrática, demonstrando sua lealdade e disposição para agir em momentos críticos.
A atuação de Tancredo Neves nesse período reforçou sua imagem como um político comprometido com a democracia e com os ideais de Getúlio Vargas.
Tancredo Neves como Primeiro-Ministro do Brasil
Em um período marcado pela incerteza política, Tancredo Neves emergiu como uma figura chave na articulação do parlamentarismo no Brasil. Sua nomeação como primeiro-ministro foi um divisor de águas na crise política que se seguiu à renúncia do presidente Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961.
A Crise Política Após a Renúncia de Jânio Quadros
A renúncia de Jânio Quadros desencadeou uma grave crise política, com o vice-presidente João Goulart enfrentando forte oposição para tomar posse. Tancredo Neves desempenhou um papel fundamental na articulação de uma solução que evitasse um golpe militar. A crise foi tão grave que chegou a ameaçar a estabilidade democrática do país.
Para resolver a crise, Tancredo viajou para Montevidéu, onde obteve a concordância de João Goulart com a implementação do parlamentarismo como uma forma de reduzir as tensões políticas. Ele retornou a Brasília em 1º de setembro de 1961, com a missão cumprida.
A Implementação do Parlamentarismo
Com a aprovação da emenda parlamentarista pelo Congresso, João Goulart foi empossado como presidente, e Tancredo Neves foi nomeado primeiro-ministro em 8 de setembro de 1961. A implementação do parlamentarismo foi vista como uma solução conciliatória que permitiu a posse de Goulart sem que houvesse uma crise institucional maior.
O primeiro gabinete parlamentarista foi composto por uma base política ampla, buscando reconstruir o diálogo entre os principais partidos do país. Tancredo Neves trabalhou para construir uma coalizão que fosse capaz de governar de forma eficaz.
Realizações e Desafios do Gabinete Parlamentarista
Durante seu período como primeiro-ministro, Tancredo Neves enfrentou vários desafios, incluindo a necessidade de equilibrar as demandas de diferentes facções políticas.
“A tarefa do primeiro-ministro era hercúlea, pois envolvia não apenas governar, mas também manter a coesão de uma coalizão política heterogênea.”
Tancredo conseguiu implementar algumas medidas importantes, mas sua gestão foi marcada pela dificuldade de lidar com as pressões políticas. Ele renunciou ao cargo em julho de 1962 para disputar as eleições para deputado federal.
Atuação Durante o Regime Militar
Durante o regime militar, Tancredo Neves adotou uma postura política que equilibrou resistência e pragmatismo. Seu papel como deputado federal foi crucial para a oposição moderada.
Posicionamento Frente ao Golpe de 1964
Em 1964, Tancredo Neves apoiou o governo de João Goulart, que foi deposto pelo golpe militar. Apesar da turbulência, Tancredo conseguiu manter seu mandato de deputado federal, enquanto outros líderes, como JK, tiveram seus direitos políticos cassados.
Essa habilidade política permitiu que Tancredo continuasse atuando na política, mesmo sob o regime militar. Sua decisão de não se filiar à ARENA, o partido dos militares, e optar pelo MDB, o partido de oposição, demonstrou sua coerência política.
Oposição Moderada à Ditadura
Tancredo Neves fez parte da ala moderada da oposição, defendendo posturas conciliatórias, incluindo o diálogo com os militares. Essa abordagem permitiu que ele mantivesse uma presença política significativa durante um período de grande repressão.
Sua atuação como oposição moderada foi estratégica, buscando mudanças políticas sem confrontos diretos com o regime.
Estratégias Políticas no MDB
Dentro do MDB, Tancredo Neves desempenhou um papel crucial, ajudando a articular estratégias políticas que permitiram ao partido sobreviver e, eventualmente, prosperar sob o regime militar.
Foi reeleito deputado federal várias vezes pelo MDB, evidenciando sua habilidade política e o reconhecimento popular. Tancredo Neves se tornou uma figura central na luta pela redemocratização do Brasil.
Governador de Minas Gerais
A eleição de Tancredo Neves para governador de Minas Gerais em 1982 foi um divisor de águas na política mineira. Com uma campanha robusta, Tancredo Neves derrotou Eliseu Resende, obtendo mais de 2,6 milhões de votos.
A Campanha e Eleição para o Governo Mineiro
A campanha de Tancredo Neves para o governo de Minas Gerais foi marcada por uma forte mobilização política. Ele conseguiu unir diversas forças políticas em torno de sua candidatura, o que foi crucial para sua vitória nas eleições de 1982.
Anteriormente, em 1978, Tancredo já havia sido eleito senador por Minas Gerais por um mandato de oito anos, consolidando sua posição na política nacional.
Principais Realizações como Governador
Durante seu mandato como governador de Minas Gerais, entre 15 de março de 1983 e 14 de agosto de 1984, Tancredo Neves implementou várias políticas importantes para o estado.
Suas realizações incluíram investimentos em infraestrutura e educação, além de esforços para promover o desenvolvimento econômico de Minas Gerais.
Projeção Nacional a Partir do Governo de Minas
O governo de Tancredo Neves em Minas Gerais serviu como uma plataforma para sua projeção nacional. Em 1983, começou a articulação política para que ele fosse o indicado da oposição aos militares para a disputa do Colégio Eleitoral de 1985.
Essa articulação foi fundamental para sua candidatura à Presidência da República, consolidando sua posição como um líder nacional.
O Movimento das Diretas Já e a Transição Democrática
O ano de 1984 foi marcado pelo auge do movimento Diretas Já, que mobilizou milhões de brasileiros em prol da redemocratização do país.
Participação de Tancredo nas Diretas Já
Tancredo Neves, então governador de Minas Gerais, teve uma participação significativa no movimento Diretas Já. Embora soubesse que suas chances de se tornar presidente seriam maiores no Colégio Eleitoral, Tancredo apoiou o movimento, reconhecendo sua importância para a redemocratização do Brasil.
Ao lado de outras lideranças, como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves percorreu o país, discursando em comícios e apoiando a causa das eleições diretas.
A Derrota da Emenda Dante de Oliveira
A Emenda Dante de Oliveira, que propunha o restabelecimento das eleições diretas para presidente, foi votada em 1984. Apesar do amplo apoio popular, a emenda não alcançou a maioria necessária no Congresso Nacional, resultando na manutenção do Colégio Eleitoral para a escolha do presidente.
A derrota da emenda foi um golpe para o movimento Diretas Já, mas não desanimou os defensores da redemocratização.
Articulação para a Disputa no Colégio Eleitoral
Após a derrota da Emenda Dante de Oliveira, Tancredo Neves desempenhou um papel crucial na articulação da oposição para disputar a presidência da república no Colégio Eleitoral. Ele negociou com diversas forças políticas, incluindo uma ala dissidente do PDS, que eventualmente apoiou sua candidatura.
A escolha de José Sarney como vice na chapa de Tancredo Neves foi um indicativo dessa estratégia, demonstrando a capacidade de Tancredo de construir alianças políticas amplas.
A Eleição Presidencial de 1985
Com a eleição presidencial de 1985, o Brasil iniciou uma nova era política, marcada pela redemocratização após mais de duas décadas de regime militar.
A Formação da Aliança Democrática
A Aliança Democrática foi uma coligação política formada pelo PMDB e a Frente Liberal, uma dissidência do PDS. Essa aliança foi crucial para apoiar a candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República. A união dessas forças políticas representou uma ampla frente de oposição ao regime militar, aumentando as chances de Tancredo Neves de ser eleito.
A escolha de José Sarney como vice-presidente na chapa de Tancredo Neves foi estratégica, pois Sarney era um ex-membro do PDS e sua inclusão ajudou a atrair apoio de setores mais moderados do antigo partido governista.
A Campanha Eleitoral e as Propostas de Tancredo
A campanha eleitoral de Tancredo Neves foi centrada na redemocratização do país e na construção da “Nova República.” Tancredo prometeu realizar reformas políticas e sociais amplas, buscando a reconciliação nacional e o fortalecimento das instituições democráticas.
Ulysses Guimarães, um dos principais líderes do PMDB, teve um papel fundamental na articulação política que levou Tancredo à presidência. A campanha também foi marcada por uma grande mobilização popular, com o apoio de diversos setores da sociedade.
A Vitória no Colégio Eleitoral
Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, recebendo 480 votos contra 180 de Paulo Maluf. No seu discurso de vitória, Tancredo afirmou: “Se todos quisermos, dizia-nos há quase 200 anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, poderemos fazer deste país uma grande Nação. Vamos fazer!”
A eleição de Tancredo Neves foi recebida com grande euforia popular, simbolizando o fim do regime militar e o retorno à democracia no Brasil. Tancredo foi eleito presidente, um marco na história política do país.
A Doença e o Drama Nacional
Nas semanas que antecederam sua posse, Tancredo Neves começou a sentir dores agudas que se tornariam um drama nacional. Tancredo vinha enfrentando problemas de saúde, incluindo dores na região do abdômen, que ele tentou esconder.
Os Primeiros Sintomas e a Internação de Emergência
Nos dias que antecederam a posse, as dores se intensificaram, mas Tancredo inicialmente recusou-se a procurar atendimento médico, temendo que o governo militar usasse sua condição de saúde como pretexto para impedi-lo de tomar posse.
No entanto, na noite de 14 de março de 1985, véspera da posse, Tancredo foi internado em caráter de emergência no Hospital de Base de Brasília. A confusão em torno de seu tratamento inicial refletiu a urgência e a gravidade da situação.
As Cirurgias e o Agravamento do Quadro Clínico
Tancredo Neves passou por sete cirurgias em hospitais de Brasília e São Paulo, lutando pela vida enquanto o país acompanhava apreensivo. As cirurgias foram realizadas para tratar complicações decorrentes de sua condição inicial, mas o quadro clínico se agravou.
- As cirurgias foram um esforço para salvar a vida de Tancredo.
- O agravamento do quadro clínico gerou grande preocupação nacional.
- A cada dia, o país acompanhava ansiosamente as notícias sobre sua saúde.
A Comoção Popular Durante a Internação
Durante os 38 dias de internação de Tancredo, o país foi tomado por uma onda de comoção popular. Vigílias, orações e manifestações de apoio ocorreram em todo o Brasil, demonstrando o carinho e a esperança que o povo depositava nele.
A nação se uniu em torno de Tancredo, desejando sua recuperação e a posse que parecia cada vez mais distante.
O Falecimento e a Posse de José Sarney
Em 21 de abril de 1985, o Brasil perdeu Tancredo Neves, o presidente eleito que não pode assumir o cargo. Sua morte marcou o fim de uma era e o início de uma nova fase na política brasileira.
A Morte em 21 de Abril de 1985
Tancredo Neves faleceu após 38 dias de internação e sete cirurgias, vítima de um tumor que causou infecção generalizada. A data de sua morte, 21 de abril, coincidiu simbolicamente com a execução de Tiradentes, outro mineiro ilustre e herói nacional, reforçando o significado histórico de sua passagem.
O Luto Nacional e as Homenagens
O falecimento de Tancredo Neves provocou luto nacional. Seu velório em São Paulo e enterro em São João del-Rei foram marcados pela presença de autoridades e grande comoção popular. As homenagens refletiram o respeito e a admiração que Tancredo Neves conquistou ao longo de sua carreira política.
A Sucessão Presidencial e a Posse de Sarney
Com a morte de Tancredo Neves, José Sarney, seu vice-presidente eleito, assumiu definitivamente a Presidência da República. Sarney já vinha exercendo interinamente o cargo desde 15 de março de 1985. Posteriormente, a Lei nº 7.465, de 21 de abril de 1986, determinou que Tancredo Neves figuraria na galeria dos presidentes da República para todos os efeitos legais.
O Legado de Tancredo Neves para a Democracia Brasileira
Tancredo Neves deixou um legado indelével na história política do Brasil, simbolizando a luta pela redemocratização. Sua eleição como presidente, embora não tenha sido seguida pela posse devido à sua morte em abril de 1985, representou um marco crucial na transição do regime militar para a democracia.
A trajetória política de Tancredo, desde vereador em São João del-Rei até presidente eleito, é um exemplo de dedicação à vida pública e compromisso com os valores democráticos. Sua habilidade política e capacidade de conciliação foram fundamentais durante períodos de crise, como durante a crise que levou ao suicídio de Getúlio Vargas e na transição democrática dos anos 1980.
As homenagens póstumas a Tancredo Neves são um testemunho de sua importância. Ruas, avenidas, escolas e outros espaços públicos em todo o Brasil foram nomeados em sua homenagem. Sua efígie também foi impressa em cédulas e moedas, perpetuando sua memória.
Tancredo é lembrado como um símbolo de conciliação e moderação. Sua liderança foi crucial na formação da Aliança Democrática, que uniu forças políticas diversas em torno da causa democrática. Figuras como Ulysses Guimarães, que teve um papel importante ao lado de Tancredo, destacam a importância da união em torno de ideais comuns.
O legado de Tancredo Neves serve como um exemplo para futuras gerações de políticos e cidadãos brasileiros. Sua contribuição para a redemocratização do Brasil e sua memória continuam a inspirar aqueles que lutam pelos valores democráticos.