Considerado um dos maiores ícones do rock brasileiro, Maluco Beleza é mais do que um apelido; é um símbolo da revolução musical que ele liderou nos anos 70 e 80.
Com uma carreira que durou 26 anos, ele lançou dezessete discos, deixando um legado que continua a influenciar novas gerações de músicos e fãs.
Sua música, uma fusão única de ritmos brasileiros com o rock internacional, criou um estilo próprio e revolucionário que o colocou na 19ª posição na lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira pela revista Rolling Stone.
Mesmo 35 anos após sua morte, seu impacto cultural permanece, com letras filosóficas, místicas e contestadoras que marcaram uma geração.
Os Primeiros Anos do Pai do Rock Brasileiro

Raul Seixas, o maluco beleza do rock brasileiro, teve seus primeiros anos de vida marcados por uma mistura de rebeldia e musicalidade. Nascido em uma família de classe média baiana, Raul Santos Seixas veio ao mundo em 28 de junho de 1945, na Avenida Sete de Setembro, Salvador.
Nascimento e Família em Salvador
Filho de Raul Varella Seixas, engenheiro da estrada de ferro, e Maria Eugênia Santos Seixas, dona de casa, Raul foi registrado no Cartório de Registro Civil de Salvador em julho de 1945. Seu nascimento foi um evento significativo, não apenas para a família, mas também para a história do rock brasileiro. Em 16 de setembro do mesmo ano, Raul foi batizado na Igreja Matriz da Boa Viagem, um ritual que marcaria sua infância.
Em dezembro de 1948, nasceu seu único irmão, Plínio Santos Seixas, com quem Raul manteria um bom relacionamento durante a infância. A família Seixas vivia uma vida tranquila, mas Raul desde cedo demonstrou uma personalidade rebelde e inquieta, características que o acompanhariam por toda a vida.
A Infância Rebelde e o Contato com a Música
Aos 14 anos, em 13 de julho de 1959, Raul Seixas fundou o Elvis Rock Club com seu amigo Waldir Serrão. Esse grupo funcionava como uma espécie de gangue que fazia arruaças pela cidade, adotando o visual de Elvis Presley, com topetes engomados e mascando chicletes constantemente.
“O rock and roll americano, especialmente através de Elvis Presley, foi fundamental para despertar seu interesse pela música e moldar sua futura carreira artística.”
O Elvis Rock Club era uma expressão da rebeldia adolescente de Raul e seus amigos. Eles se inspiravam na cultura americana que chegava através do rock, contrastando com a educação tradicional baiana que recebiam. Esse contraste foi crucial para a formação da identidade musical de Raul Seixas.
A infância e adolescência de Raul em Salvador foram marcadas por essa dualidade cultural. Ele navegava entre a música americana e a cultura baiana, criando uma identidade única que mais tarde o definiria como um dos principais nomes do rock brasileiro.
A Formação Musical e Intelectual
Desde cedo, Raul Seixas demonstrou um desinteresse pela educação formal, contrastando com uma crescente paixão pela música e pelos livros. Sua trajetória escolar foi marcada por dificuldades, começando em 1957 quando foi reprovado na 2ª série por três anos consecutivos no Colégio São Bento.
O Desinteresse pela Escola e a Paixão pelos Livros
Em vez de assistir às aulas, Raul preferia passar seu tempo na loja “Cantinho da Música”, onde ouvia os primórdios do rock and roll. Essa preferência precoce pela música refletia sua paixão emergente. A família, na tentativa de melhorar seu desempenho escolar, o matriculou no Colégio Interno Marista, mas ele também não obteve sucesso, repetindo a 3ª série em 1961.
Apesar do desinteresse pela escola, Raul desenvolveu uma intensa paixão pela leitura. Seu pai, que amava livros, possuía uma vasta biblioteca em casa, que Raul explorava avidamente. Ele desenvolveu interesses por filosofia, principalmente metafísica e ontologia, psicologia, história, literatura e latim.
As Primeiras Influências do Rock Americano
A paixão de Raul Seixas pela música foi significativamente influenciada pelo rock americano. Ele ouvia rock and roll na loja “Cantinho da Música”, o que o introduziu aos estilos e ritmos que mais tarde definiriam sua própria música.
A formação intelectual autodidata de Raul Seixas incluía a criação de histórias e personagens em cadernos escolares, demonstrando sua criatividade precoce. Um de seus personagens principais era um cientista maluco chamado “Melô”, que viajava para lugares imaginários.
Raul Seixas afirmou mais tarde: “Eu era um fracasso na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que aprendia era nos livros, em casa ou na rua.” Essa declaração reflete sua visão sobre a educação formal e seu caminho autodidata.
O Elvis Rock Club e o Início da Carreira
Com o Elvis Rock Club, Raul Seixas começou a se destacar no cenário musical baiano. O clube, fundado em 1959 junto com Waldir Serrão, foi mais do que um simples grupo de fãs de Elvis Presley; representou uma gangue juvenil que se envolvia em brigas, arruaças e pequenos delitos.
O Elvis Rock Club surgiu como um importante marco na vida de Raul Seixas, influenciando sua trajetória musical e social. Segundo a jornalista Ana Maria Bahiana, foi através de Serrão que Raul começou a sair de casa e a manter uma vida social mais ampla.
A Fundação do Clube de Fãs de Elvis
A fundação do Elvis Rock Club foi um evento crucial. Raul Seixas e Waldir Serrão criaram o clube em 1959, adotando o visual rockabilly, com topete engomado e gola levantada. Embora o clube fosse conhecido por suas arruaças, Raul “ia na onda” por acreditar que aquilo fazia parte do estilo de vida do rock and roll.
- O Elvis Rock Club foi fundado por Raul Seixas e Waldir Serrão em 1959.
- O clube funcionava como uma gangue juvenil que procurava brigas e fazia arruaças.
- Raul Seixas adotou o visual rockabilly, com topete engomado e gola levantada.
Os Relâmpagos do Rock e as Primeiras Apresentações
As primeiras apresentações de Raul Seixas foram marcadas por covers de artistas americanos como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Little Richard. Sua banda, Os Relâmpagos do Rock, passou por várias formações até se consolidar. Essas experiências foram fundamentais para que Raul desenvolvesse seu estilo performático único.
Em meados dos anos 50, quando o rock ainda era desconhecido no Brasil, Raul já se apresentava imitando Little Richard, chegando a se atirar no chão durante as performances.
Raulzito e Os Panteras: O Primeiro Disco
A gravação do primeiro disco de Raulzito e Os Panteras em 1968 representou um momento decisivo na carreira do artista. Em 1963, a banda, inicialmente chamada The Panters, já havia se tornado uma sensação em Salvador, conquistando fãs com suas performances enérgicas.
A Formação da Banda e a Ida para o Rio de Janeiro
Com o crescimento da popularidade, o grupo foi rebatizado como “Os Panteras”, adotando um nome em português, e consolidou sua formação definitiva com Raulzito, Mariano Lanat, Eládio Gilbraz e Carleba. Em 1967, Raul Seixas iniciou um relacionamento com Edith Wisner, filha de um pastor protestante americano, enfrentando a oposição do pai dela ao namoro.
Determinado a conseguir a aprovação para o casamento, Raul completou o segundo grau em apenas seis meses, fez cursinho pré-vestibular e foi aprovado em Direito, Psicologia e Filosofia, conseguindo assim se casar com Edith. Logo após o casamento, abandonou os estudos universitários, reuniu novamente Os Panteras e aceitou o convite de Jerry Adriani para tentar a sorte no Rio de Janeiro.
O Álbum de Estreia e o Fracasso Comercial
Em 1968, Raulzito e os Panteras gravaram seu primeiro e único disco pela gravadora EMI-Odeon, após serem reconhecidos por Roberto Carlos nos corredores da gravadora. O álbum de estreia incluía uma versão em português de “Lucy in the Sky with Diamonds” dos Beatles, além de composições originais.
No entanto, o disco não obteve sucesso comercial nem reconhecimento da crítica. Após o fracasso do disco, o grupo enfrentou sérias dificuldades financeiras no Rio de Janeiro, com Raul Seixas chegando a passar fome, experiência que mais tarde inspiraria versos de “Ouro de Tolo”.
A pesar do fracasso inicial, a experiência de Raul Seixas com Os Panteras foi crucial para seu desenvolvimento como artista. A gravação do primeiro disco representou um importante passo em sua jornada musical, preparando-o para os desafios e oportunidades que viriam posteriormente.
A Fase de Produtor Musical na CBS
Com a ajuda de Jerry Adriani, Raul Seixas conseguiu um emprego como produtor na CBS, iniciando uma jornada nos bastidores da indústria fonográfica. Após o fracasso com Os Panteras, Raul retornou a Salvador, profundamente abalado. Ele passou dias inteiros trancado em seu quarto lendo filosofia com uma luz fraca, o que prejudicou sua visão.
A sorte começou a mudar quando ele conheceu um diretor da CBS Discos na Bahia. Sem hesitar, Raul fez as malas junto com sua esposa Edith e retornou ao Rio de Janeiro para trabalhar como produtor fonográfico, utilizando seus vastos conhecimentos musicais.
O Trabalho nos Bastidores da Indústria Fonográfica
Raul Seixas trabalhou anonimamente por um bom tempo como produtor na CBS. No entanto, o ano de 1970 marcou o início de uma fase extremamente produtiva em sua carreira. Ele começou a produzir discos para vários artistas, incluindo Tony & Frankye, Osvaldo Nunes, Jerry Adriani, Edy Star e Diana.
Suas composições passaram a ser gravadas pelos artistas do cast da gravadora, alcançando grande sucesso comercial. Raul conseguiu estabelecer-se como um respeitado produtor musical, lançando composições de sucesso na voz de outros artistas.
As Composições para Outros Artistas
Além de produzir, Raul Seixas escrevia uma quantidade impressionante de músicas para os colegas da gravadora. Algumas de suas composições alcançaram grande sucesso, como “Doce Doce Amor” (Jerry Adriani), “Ainda Queima a Esperança” (Diana) e “Se ainda existe amor” (Balthazar).
Neste período, Raul trabalhou com grandes nomes da Jovem Guarda, alimentando o sonho de retornar à carreira como cantor. Sua habilidade como compositor e produtor foi fundamental para o sucesso de muitos artistas da época.
Raul Seixas e o Sucesso Solo nos Anos 70
O sucesso solo de Raul Seixas nos anos 70 foi um divisor de águas na música brasileira. Foi nesse período que ele consolidou sua imagem como um ícone do rock nacional.
O Festival Internacional da Canção e o Contrato com a Philips
Em 1972, incentivado por seu amigo Sérgio Sampaio, Raul Seixas decidiu participar do Festival Internacional da Canção. Esse evento foi crucial para sua carreira, pois ele compôs duas músicas: “Let Me Sing, Let Me Sing” e “Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo”. Ambas chegaram à final do festival, obtendo sucesso de crítica e público. O desempenho de Raul no festival chamou a atenção da gravadora Philips, que rapidamente o contratou.
A participação no festival foi um marco importante na carreira de Raul Seixas, abrindo portas para seu trabalho solo.
Krig-ha, Bandolo! e o Sucesso de “Ouro de Tolo”
No ano de 1973, Raul lançou o álbum “Krig-ha, Bandolo!”, que incluía a música “Ouro de Tolo”, seu primeiro grande sucesso nacional. Em entrevistas, Raul declarou que a inspiração para “Ouro de Tolo” veio de uma experiência mística com um disco voador alaranjado na Barra da Tijuca.
O álbum “Krig-ha, Bandolo!” também continha outras canções que se tornaram clássicos do rock brasileiro, como “Metamorfose Ambulante“, “Mosca na Sopa” e “Al Capone”.
A música “Metamorfose Ambulante” se destacou por sua letra filosófica, questionando dogmas e certezas, e se tornou um hino para aqueles que buscavam liberdade de pensamento e transformação constante.
Com esse álbum, Raul Seixas alcançou grande repercussão nacional, sendo divulgado como um ícone popular do rock brasileiro. Sua imagem mesclava rebeldia e misticismo, e logo o público e a imprensa perceberam que ele não era apenas um cantor e compositor, mas um artista multifacetado com profundas reflexões filosóficas e sociais em suas letras.
A Parceria com Paulo Coelho e a Sociedade Alternativa
Em 1973, Raul Seixas conheceu Paulo Coelho após se interessar por um artigo sobre extraterrestres publicado na revista “A Pomba”, iniciando uma colaboração que mudaria sua trajetória artística. Este encontro foi o início de uma das parcerias mais importantes da música brasileira.
O Encontro com Paulo Coelho e as Primeiras Colaborações
A relação entre Raul Seixas e Paulo Coelho se fortaleceu em 1974, quando criaram a Sociedade Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do ocultista inglês Aleister Crowley. A Sociedade Alternativa foi estruturada com sede alugada, papel timbrado e relatórios mensais, e chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas Gerais para a construção da “Cidade das Estrelas”.
- Criação da Sociedade Alternativa em 1974
- Influência de Aleister Crowley na filosofia da sociedade
- Planos para a construção da “Cidade das Estrelas”
A Filosofia de Aleister Crowley e a Perseguição pela Ditadura
A Sociedade Alternativa foi criada com base na Lei de Thelema, desenvolvida por Crowley, que tinha como máxima “Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei“. No entanto, a obsessão de Raul Seixas e Paulo Coelho em construir “uma verdadeira civilização thelêmica” atraiu a atenção da censura do regime militar, resultando em problemas com as autoridades.
A letra da música “Como Vovó já Dizia” composta pelos dois teve de ser mudada devido à censura. Além disso, no show de lançamento do projeto, a polícia apreendeu e queimou o gibi-manifesto “A Fundação de Krig-Ha”, considerando-o material subversivo.
A situação culminou com a prisão de Raul Seixas e Paulo Coelho pelo DOPS, que interpretou erroneamente a Sociedade Alternativa como um movimento armado contra o governo. Essa parceria não apenas influenciou a música de Raul Seixas, mas também o envolveu em uma série de eventos que marcaram sua carreira e sua vida.
O Auge da Carreira e os Grandes Sucessos
Raul Seixas atingiu o auge de sua carreira nos anos 70, com uma série de sucessos que o consolidaram como um dos principais nomes do rock brasileiro. Seu retorno ao Brasil em 1974 foi marcado pelo lançamento do LP “Gita”, que se tornou um enorme sucesso comercial.
Gita e o Sucesso Comercial
“Gita” foi um divisor de águas na carreira de Raul Seixas, vendendo impressionantes 600 mil unidades e se tornando o maior sucesso comercial de sua carreira. A mistura de rock, filosofia oriental e referências místicas presente no álbum consolidou Raul Seixas como um artista único no cenário musical brasileiro.
Nos anos seguintes, Raul Seixas lançou outros álbuns importantes, como “Novo Aeon” e “Há Dez Mil Anos Atrás”, que marcaram o encerramento de seu contrato com a Phillips e o fim da parceria criativa com Paulo Coelho.
As Músicas que Marcaram uma Geração
Canções como “Metamorfose Ambulante“, “Mosca na Sopa”, “Sociedade Alternativa” e “Tente Outra Vez” tornaram-se hinos de uma geração que buscava liberdade em meio à repressão da ditadura militar. As letras de Raul Seixas eram ricas em referências a personalidades históricas e fictícias, demonstrando sua vasta cultura e erudição.
Durante a década de 1970, Raul Seixas se tornou extremamente popular nos grandes centros urbanos, com suas músicas satíricas, sarcásticas e carregadas de temas esotéricos. Ele enfrentou a censura do regime militar, desenvolvendo a habilidade de esconder mensagens políticas dentro de significados duplos em suas letras.
O auge de sua carreira foi marcado por shows lotados, aparições memoráveis em programas de TV e uma conexão profunda com seu público, que via em Raul Seixas não apenas um músico, mas um porta-voz de anseios e questionamentos de toda uma geração.
O Estilo Musical Único e as Influências
Com uma abordagem inovadora, Raul Seixas combinou rock e baião, resultando em uma sonoridade que chamou a atenção do público e da crítica. Sua obra musical é composta por dezessete discos lançados durante 26 anos de carreira, demonstrando sua versatilidade e capacidade de criar músicas que ressoaram em diferentes gerações.
A Fusão do Rock com Ritmos Brasileiros
O estilo musical de Raul Seixas é tradicionalmente classificado como uma fusão entre rock e baião. Ele conseguiu unir ambos os gêneros de forma orgânica em músicas como “Let Me Sing, Let Me Sing.” Segundo o escritor Vitor Cei, “combinar o rock de Elvis com o baião foi a fórmula certa para ele chamar a atenção do público e da mídia.”
- A fusão de rock com ritmos brasileiros criou uma identidade sonora única para Raul Seixas.
- Essa mistura de estilos, embora não fosse exclusividade dele, tornou-se seu legado estético.
- Raul Seixas é definido por Rodrigo Faour como “um roqueiro tropicalista,” misturando elementos como brega e chique, rock com baião, xaxado, embolada, bolero, twist e sons de terreiros.
As Letras Filosóficas e Contestadoras
As letras de Raul Seixas abordavam temas universais como existencialismo, liberdade individual, crítica social e busca espiritual. Ele utilizava uma linguagem acessível que atingia diversos públicos, tornando suas mensagens filosóficas compreensíveis para um amplo espectro de ouvintes.
- Suas letras eram filosóficas e contestadoras, refletindo sua profunda interesse por filosofia, psicologia, história e literatura.
- A capacidade de Raul de traduzir conceitos complexos em versos simples foi fundamental para o alcance de suas mensagens.
- Sua obra transcendeu o entretenimento, tornando-se um veículo para reflexões profundas sobre a condição humana e a sociedade brasileira.
Os Anos 80: Declínio e Problemas de Saúde
Nos anos 80, Raul Seixas enfrentou uma série de desafios pessoais e de saúde que afetaram sua carreira. O final da década de 1970 já havia marcado o início de sua decadência física e musical, com o alcoolismo sendo um dos principais problemas.
Problemas de Saúde
O abuso de álcool teve consequências severas para a saúde de Raul Seixas, levando à perda de um terço do pâncreas. Além disso, suas crises com a bebida se tornaram mais frequentes e intensas. O quadro de saúde se agravou com o diagnóstico de depressão e o envolvimento com outras drogas.
- Perda de um terço do pâncreas devido ao alcoolismo
- Crises frequentes e intensas relacionadas ao consumo de álcool
- Diagnóstico de depressão e envolvimento com outras drogas
Os Últimos Álbuns e Parcerias
Apesar dos problemas de saúde, Raul Seixas continuou a produzir álbuns que venderam bem. Em 1983, lançou o álbum “Raul Seixas“, seguido por “Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!” em 1987 e “A Panela do Diabo” em 1989, este último em parceria com Marcelo Nova. Em 1984, em parceria com sua companheira Kika Seixas, escreveu a canção-testamento “Geração da Luz”.
O relacionamento com Kika Seixas foi um dos mais estáveis de sua vida, proporcionando-lhe algum equilíbrio em meio às turbulências pessoais e profissionais. Mesmo com todos os problemas, Raul Seixas manteve sua capacidade de se reinventar artisticamente.
Os Últimos Dias do Maluco Beleza
Os últimos dias de Raul Seixas foram marcados por um misto de criatividade e desafios pessoais. Apesar das lutas contra o alcoolismo e o diabetes, Raul continuou trabalhando em sua música.
Em 1989, ele lançou seu décimo-quinto e último disco, A Panela do Diabo, em parceria com Marcelo Nova. Esse álbum representou uma tentativa de renovação artística, mesclando a experiência de Raul com a energia punk de Marcelo Nova.
O Último Trabalho
A Panela do Diabo continha músicas como “Carpinteiro do Universo” e “Pastor João e a Igreja Invisível”. O disco foi um sucesso, vendendo 150 mil cópias e rendendo a Raul um disco de ouro, mesmo após sua morte.
A parceria com Marcelo Nova trouxe uma nova energia para o trabalho de Raul, demonstrando que, mesmo nos últimos dias, sua conexão com o público permanecia forte.
A Morte Prematura
Apenas dois dias após o lançamento de A Panela do Diabo, em 21 de agosto de 1989, Raul Seixas foi encontrado morto em seu apartamento em São Paulo. Com apenas 44 anos, o músico sucumbiu a uma parada cardíaca após uma pancreatite fulminante, agravada por sua condição de saúde.
A morte de Raul Seixas causou comoção nacional, com fãs prestando homenagens ao artista que se tornou um símbolo de liberdade e contestação.
A trajetória musical de Raul Seixas, que começou em 1968, incluiu parcerias com nomes como Paulo Coelho e Sérgio Sampaio. Seu legado transcendeu sua existência física, deixando uma marca indelével na música brasileira.
O Legado Eterno de Raul Seixas na Música Brasileira
Raul Seixas, o Maluco Beleza, deixou uma marca indelével na cultura musical do Brasil. Trinta e cinco anos após sua morte, suas composições continuam a embalar festas e rodas de violão, influenciando novas gerações.
O jornalista e crítico musical Jotabê Medeiros destaca que a eternidade de Raul Seixas se deve à sua “proximidade legítima com as ruas, com o povo, com as aflições brasileiras”. Essa conexão permitiu que sua música fosse compreendida por todos os estratos sociais, tornando-se um “passaporte para a eternidade”.
A parceria de Raul Seixas com Paulo Coelho resultou em algumas das mais importantes composições de sua carreira, como “Gita“, “Al Capone” e “Sociedade Alternativa“. Essas canções uniram rock, filosofia e misticismo de forma inédita no cenário musical brasileiro.
Álbuns como “Krig-ha, Bandolo!“, “Gita“, “Novo Aeon” e “Há Dez Mil Anos Atrás” são considerados fundamentais para o rock brasileiro, influenciando gerações de músicos. A Sociedade Alternativa, inspirada nos preceitos de Aleister Crowley, transcendeu o aspecto musical para se tornar uma filosofia de vida.
Canções como “Metamorfose Ambulante“, “Ouro de Tolo“, “O Dia em que a Terra Parou” e “Tente Outra Vez” são hinos atemporais que continuam relevantes. O sincretismo musical de Raul, combinando rock com ritmos brasileiros, criou um estilo único que continua a inspirar artistas contemporâneos.
O legado de Raul Seixas é um testemunho de sua genialidade e inovação, permanecendo como uma referência fundamental para entender a música brasileira e as transformações da sociedade nas últimas décadas.