Este artigo explora a vida e as contribuições do cientista e historiador da ciência Lúcio Russo, destacando suas teorias sobre a ‘revolução esquecida’ da ciência helenística entre 320 a.C. e 144 a.C. O texto aborda como Russo defende que os cientistas helenísticos, como Euclides, Arquimedes e Eratóstenes, alcançaram avanços científicos impressionantes em áreas como matemática, astronomia e medicina, muito além do que normalmente se reconhece. Também são discutidas suas ideias sobre a evolução das teorias das marés antigas e a importância da redescoberta desses conhecimentos para a ciência moderna. O artigo é escrito em um tom divertido e informativo, tornando acessível a trajetória e os insights deste personagem fascinante da história da ciência.
Quem foi Lúcio Russo?
Lúcio Russo (1944-2025) foi uma figura singular que misturava física, matemática e história da ciência, nascido em Veneza e professor na Universidade de Roma Tor Vergata. Ele não foi apenas um acadêmico comum; seu trabalho ultrapassou as fronteiras tradicionais ao conectar a rigorosa análise científica com a curiosa investigação histórica.
Russo é especialmente conhecido por sua pesquisa detalhada sobre a ciência helenística — aquele período brilhante da Antiguidade entre 320 e 144 a.C., quando Alexandria era o epicentro do conhecimento científico. Ele não via esses cientistas antigos apenas como precursores, mas como verdadeiros pioneiros que alcançaram avanços incríveis em áreas que hoje consideramos complexas: matemática, mecânica dos fluidos e sólidos, óptica, astronomia, anatomia, fisiologia e até psicanálise!
Um dos pontos fortes de Russo era a reconstrução das contribuições do astrônomo helenístico Hiparco e sua defesa de que Seleuco de Selêucia teria formulado uma versão de heliocentrismo séculos antes de Copérnico. Aprofundando-se na história das marés, Russo mostrou que os antigos já tinham teorias robustas que só vieram a ser compreendidas novamente muito depois.
Além disso, Russo estudou o impacto devastador da ascensão de Ptolomeu VIII Físcion em Alexandria — um momento sombrio marcado por perseguições aos intelectuais e fim daquela revolução científica antiga.
Mais do que um historiador convencional, Lúcio Russo nos convida a redescobrir uma ciência esquecida, com métodos axiomaticamente rigorosos desenvolvidos por nomes como Euclides e Arquimedes. Seu legado abre portas para entendermos como o conhecimento pode se perder — mas também ser reencontrado.
A revolução esquecida de Lúcio Russo
Lúcio Russo provocou um verdadeiro abalo sísmico na forma como entendemos a história da ciência antiga, principalmente em relação ao período helenístico. Ele não apenas destacou, mas resgatou uma revolução científica praticamente ignorada: aquela que floresceu entre 320 e 144 a.C., muito além do que os livros tradicionais costumam contar.
Russo argumenta que os cientistas helenísticos — nomes como Euclides, Arquimedes e Eratóstenes — não eram apenas sábios acumuladores de conhecimento, mas pioneiros que alcançaram avanços extraordinários em várias áreas. Estamos falando de:
- Matemática avançada com métodos axiomáticos e dedutivos;
- Mecânica dos sólidos e fluidos;
- Óptica;
- Astronomia com conceitos precursores do heliocentrismo;
- Anatomia, fisiologia e até uma proto-psicanálise.
Uma das ideias mais incríveis de Russo é que esses cientistas já teriam compreendido algo parecido com a lei do inverso do quadrado da gravitação, muito antes de Newton! O que teria acontecido para esse conhecimento desaparecer? Segundo ele, as perseguições políticas violentas — especialmente durante o reinado de Ptolomeu VIII — levaram à expulsão, perseguição e morte de muitos intelectuais em Alexandria e outros centros científicos. Assim, essa “revolução” foi enterrada junto com eles.
Além disso, Russo mostra como o abandono da lógica axiomática dificultou a interpretação correta dos conhecimentos antigos. Por exemplo, ele sugere que definições simples em geometria só foram formalizadas séculos depois por Heron de Alexandria.
Essa visão dá um novo significado ao que chamamos hoje de Idade das Trevas
científica: não foi apenas uma perda temporária, mas o desaparecimento brutal de uma era dourada da ciência!
Ciência Helenística: A era dourada esquecida
A ciência helenística, florescente entre 320 e 144 a.C., representa uma das fases mais brilhantes da história do conhecimento humano — um verdadeiro renascimento científico antes do Renascimento europeu. Mesmo com toda sua importância, essa era permanece pouco reconhecida, em grande parte devido à perda e ao esquecimento dos avanços alcançados.
Durante esse período, as cidades como Alexandria tornaram-se centros vibrantes de pesquisa e inovação. Cientistas como Euclides, Arquimedes e Eratóstenes não só desenvolveram conceitos fundamentais em matemática e geometria — com métodos axiomáticos que influenciam até hoje — como também fizeram descobertas pioneiras em física, óptica e astronomia. Por exemplo, técnicas precisas para medir a circunferência da Terra foram criadas nessa época, muito antes de serem validadas na era moderna.
O impacto dessa ciência foi tão profundo que Lúcio Russo argumenta que muitos princípios fundamentais foram desenterrados novamente na Revolução Científica do século XVII. No entanto, o que ocorreu após o apogeu helenístico foi um declínio abrupto causado por fatores políticos, como as perseguições ordenadas por Ptolomeu VIII em Alexandria. Isso resultou na dispersão de intelectuais e no esquecimento de conhecimentos valiosos.
Outra característica marcante da ciência helenística foi sua interdisciplinaridade: a medicina científica começou a tomar forma, com estudos detalhados do corpo humano; a mecânica dos fluidos avançou; e até conceitos iniciais da psicologia começaram a emergir.
Essa era dourada da ciência não foi apenas o embrião das ciências modernas — foi uma época de criatividade intelectual extraordinária que merece ser redescoberta e valorizada pelo seu papel essencial na trajetória do saber humano.
As teorias das marés na antiguidade
Durante a era helenística, as marés despertavam grande curiosidade entre os cientistas da época, que buscavam entender o fenômeno natural com as ferramentas e conhecimentos disponíveis. Lúcio Russo destaca que, apesar das limitações tecnológicas, pensadores como Posidônio e outros físicos gregos lançaram as bases para as primeiras teorias sobre o movimento das águas dos oceanos.
A explicação predominante no período helenístico para as marés estava ligada à influência da Lua. Já naquela época, observavam que o ciclo lunar parecia sincronizado com a subida e descida do nível do mar — um insight notável considerando-se a ausência de instrumentos científicos sofisticados. Porém, ao invés de compreenderem a gravidade como fazemos hoje, eles imaginavam forças ocultas ou fluidos cósmicos emanando da Lua para mover os mares.
Russo enfatiza que essas ideias não eram meras suposições vagas; elas faziam parte de uma tentativa sistemática de transformar observações em teorias coerentes. Algumas correntes até associavam as marés à combinação dos movimentos do Sol e da Lua, antecipando conceitos modernos da astronomia em uma forma embrionária.
Além disso, essa busca pelo entendimento das marés estava inserida num quadro maior de tentativas helenísticas de explicar fenômenos naturais sem recorrer ao mito — um esforço revolucionário para a época. Infelizmente, muitos desses avanços foram esquecidos durante séculos devido à perseguição política e cultural que interrompeu essa efervescência científica.
Assim, ao explorar essas teorias antigas sobre as marés, Lúcio Russo nos permite apreciar como os primeiros cientistas tentaram decifrar os mistérios do mundo natural com olhos curiosos e mentes brilhantes — um legado fundamental que influenciaria a redescoberta científica na Era Moderna.
Lúcio Russo e a redescoberta da ciência helenística na Era Moderna
Lúcio Russo foi um dos grandes responsáveis por trazer à luz o legado quase esquecido da ciência helenística, que floresceu entre 320 e 144 a.C., muito antes do que muitos imaginam. Ele argumentou que os cientistas da antiguidade não eram meros precursores do conhecimento moderno, mas sim mestres em campos como matemática, mecânica, astronomia, medicina e até psicologia.
Um dos pontos centrais do trabalho de Russo é a ideia de que a ciência helenística alcançou avanços impressionantes — por exemplo, ele sugere que já se tinha uma compreensão preliminar da lei do inverso do quadrado da gravitação. Isso é revolucionário porque mostra como o conhecimento científico daquela época estava muito mais avançado do que se pensa usualmente.
Russo também destaca a importância da cidade de Alexandria como epicentro dessa revolução científica. Foi lá que mentes brilhantes como Euclides e Arquimedes desenvolveram métodos rigorosos de argumentação dedutiva e axiomatização — bases fundamentais para a ciência moderna. Mas essa brilhante tradição científica foi tragicamente interrompida com as purgas promovidas por Ptolomeu VIII, que expulsou ou eliminou os intelectuais daquela época.
Outra contribuição valiosa de Russo foi mostrar como o abandono dessa tradição levou ao esquecimento gradual das teorias antigas. Por isso, quando os cientistas do século XVII redescobriram princípios científicos fundamentais, estavam na verdade resgatando um legado perdido há séculos.
Em resumo, Russo não apenas recupera fatos históricos; ele nos faz repensar o valor das conquistas dos antigos e entender melhor as raízes profundas da ciência moderna. Um verdadeiro convite para olhar para trás com admiração — e talvez um pouco de surpresa!
Outras ideias polêmicas de Lúcio Russo
Além de sua célebre tese sobre a revolução científica helenística, Lúcio Russo ousou propor outras ideias que mexem com o senso comum histórico e científico. Essas teorias não apenas desafiam a narrativa tradicional, mas também ampliam nossa visão sobre a antiguidade e seus feitos.
Um exemplo marcante é sua hipótese sobre o conhecimento prévio das Américas por civilizações europeias antigas, como os fenícios ou cartagineses. Russo aponta para evidências curiosas, como pinturas romanas que retratariam frutas americanas (por exemplo, o abacaxi) e pequenos brinquedos mesoamericanos representando carrinhos com rodas — algo surpreendente pois o uso da roda não existia na América pré-colombiana. Segundo ele, esse saber geográfico teria se perdido com a expansão romana no século II a.C., principalmente após eventos como a destruição de Corinto e Cartago e a expulsão dos intelectuais em Alexandria.
Outra ideia polêmica é sua análise da evolução do método axiomático e dedutivo na matemática antiga. Russo sugere que muitas definições geométricas fundamentais foram adicionadas ou modificadas séculos depois da elaboração original dos “Elementos” de Euclides, indicando um processo dinâmico e contínuo de construção do conhecimento — um contraste com a visão tradicional de textos antigos como obras imutáveis.
Também chamou atenção ao reavaliar teorias científicas helenísticas menos valorizadas, como as relacionadas às marés, propondo que já existia uma compreensão profunda dessas forças naturais muito antes do período moderno.
Essas ideias mostram um Russo corajoso em questionar narrativas consolidadas, abrindo caminho para uma história da ciência mais complexa e fascinante.
Por que a ciência helenística foi esquecida?
A ciência helenística, apesar de seu brilho e avanços espetaculares, acabou caindo no esquecimento principalmente por fatores históricos e culturais que Lúcio Russo destaca em suas pesquisas. Um dos pontos centrais é que o período helenístico (aproximadamente 320–144 a.C.) viu uma explosão de conhecimento concentrada em centros como Alexandria, onde pensadores como Euclides, Arquimedes e Eratóstenes não só avançaram em matemática e astronomia, mas também em áreas tão plurais como mecânica dos fluidos, medicina científica e até psicanálise.
Porém, essa fase dourada da ciência terminou abruptamente com a ascensão de Ptolomeu VIII Fiscão, que promoveu expurgos massivos e expulsões dos intelectuais em Alexandria — um golpe fatal para o ambiente científico. Sem esses guardiões do saber, a transmissão do conhecimento ficou comprometida.
Além disso, a complexidade técnica da ciência helenística é outro motivo para seu esquecimento. As ideias foram desenvolvidas dentro de um modelo axiomatico rigoroso, muito abstrato. Quando esse método foi abandonado na Idade Média, o entendimento das descobertas se perdeu — imagine tentar montar um quebra-cabeça sem as peças principais ou as instruções!
Outro fator crucial é o impacto da expansão romana que subjugou os centros científicos helenísticos. Com isso, houve uma perda tanto do patrimônio intelectual quanto das conexões culturais essenciais para manter viva essa chama científica.
Lúcio Russo nos lembra ainda que o “renascimento” científico do século XVII na Europa só foi possível porque redescobriram essas ideias antigas — porém descontextualizadas e fragmentadas — recuperando assim parte do legado perdido da revolução científica helenística. Ou seja: esqueceram a ciência antiga porque o mundo passou por uma fase sombria onde os cientistas foram perseguidos e seu modo de pensar virou tabu — uma verdadeira revolução esquecida
.
Legado e importância de Lúcio Russo para a história da ciência
Lúcio Russo é uma figura fundamental para compreendermos como a ciência helenística não foi apenas um prelúdio, mas uma verdadeira revolução científica que influenciou profundamente a modernidade. Seu trabalho desconstrói o mito da “ciência antiga primitiva” mostrando que, entre 320 e 144 a.C., em cidades como Alexandria, os cientistas alcançaram níveis de conhecimento surpreendentes em várias áreas — matemática, mecânica, óptica, astronomia e até mesmo medicina e psicologia.
Um dos grandes legados de Russo está na valorização do método científico helenístico. Ele destaca que figuras como Euclides e Arquimedes desenvolveram uma forma rigorosa de argumentação baseada em axiomas e deduções lógicas. Essa estrutura formal permitiu avanços extraordinários, mas que foram “perdidos” quando esse método deixou de ser aplicado corretamente nas gerações seguintes. Por exemplo, ele propõe que as definições básicas de geometria só foram realmente estruturadas séculos depois do tratado original de Euclides.
Além disso, Russo trouxe à luz a importância das purgas políticas em Alexandria — tema do capítulo anterior — ao mostrar como esses eventos não apenas interromperam o florescimento científico local, mas também causaram um retrocesso no desenvolvimento global da ciência por séculos.
Sua obra mais notável, The Forgotten Revolution, é uma espécie de resgate histórico que nos obriga a repensar o impacto da ciência antiga no mundo moderno. Ela nos revela que muitas das descobertas atribuídas à Revolução Científica do século XVII têm raízes profundas na antiguidade helenística.
“A revolução científica do século XVII deve muito mais à redescoberta da ciência helenística do que se imagina.” — Lúcio Russo
Portanto, o legado de Russo vai além da simples história: ele redefine nosso entendimento sobre o progresso científico, mostrando como os avanços antigos moldaram nossa visão atual do mundo natural. Sua pesquisa abre caminho para valorizar e reconstituir conhecimentos esquecidos que poderiam ainda inspirar novas descobertas hoje.