Getúlio Vargas – O Pai dos Pobres e Sua Polêmica História

A figura de Getúlio Vargas é um divisor de águas na história política do Brasil.

Conhecido como “Pai dos Pobres,” seu governo foi marcado por políticas trabalhistas e sociais que mudaram o curso da história brasil.

Durante sua presidência, Vargas implementou mudanças significativas, desde a criação do Governo Provisório até o Estado Novo, demonstrando seu poder e influência sobre o país.

Sua trajetória política foi complexa, envolvendo momentos de autoritarismo e populismo, o que permanece como um legado controverso.

Ao longo de sua vida, Vargas ocupou o cargo de presidente por quase duas décadas, deixando uma marca indelével na presidência e no governo do Brasil.

A Trajetória de um Líder Controverso

getulio vargas

Getúlio Vargas é uma figura emblemática na história do Brasil, cujo legado permanece objeto de debate. Sua trajetória política, marcada por avanços sociais significativos e métodos autoritários, continua a influenciar a política brasileira.

Quem Foi Getúlio Vargas

Getúlio Dornelles Vargas nasceu em 19 de abril de 1882, em São Borja, Rio Grande do Sul. Ele construiu uma sólida carreira política antes de alcançar a presidência da República em 1930. Vargas foi o presidente que mais tempo ficou no cargo em toda a história republicana do Brasil.

Sua personalidade política era caracterizada por um notável pragmatismo, permitindo-lhe transitar entre diferentes grupos políticos e adaptar seu discurso conforme as circunstâncias exigiam. Vargas passou por vários cargos importantes, incluindo deputado estadual, federal, e ministro da Fazenda.

  • Deputado estadual e federal pelo Rio Grande do Sul
  • Ministro da Fazenda durante o governo de Washington Luís
  • Presidente do Rio Grande do Sul, onde consolidou sua base política

O Significado do Título “Pai dos Pobres”

O título de “Pai dos Pobres” foi atribuído a Getúlio Vargas devido às suas políticas trabalhistas e sociais. Durante seu governo, ele implementou direitos fundamentais para os trabalhadores urbanos, como salário mínimo, jornada de trabalho de oito horas, e férias remuneradas, através da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

No entanto, paradoxalmente, enquanto protegia os trabalhadores com novas leis, Vargas mantinha um controle rígido sobre os sindicatos e reprimia movimentos trabalhistas independentes. Essa dualidade é central para entender o legado controverso de Vargas.

“O Brasil precisa de homens que, ao lado da autoridade, tenham coragem.”

A trajetória de Getúlio Vargas reflete a complexidade da política brasileira durante o século XX, marcada por avanços sociais e medidas autoritárias. Seu legado continua a ser objeto de estudo e debate.

Origens e Formação de Getúlio Vargas

Em 19 de abril de 1882, Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja, Rio Grande do Sul, em uma família de estancieiros com forte influência na política local. Seu pai, Manuel do Nascimento Vargas, era um veterano da Guerra do Paraguai, e sua mãe, Cândida Francisca Dornelles Vargas, contribuiu para um ambiente familiar que valorizava a disciplina e as articulações políticas.

Nascimento e Família em São Borja

Getúlio Vargas cresceu em São Borja, uma cidade fronteiriça do Rio Grande do Sul, onde a cultura gaúcha e a influência da fronteira com a Argentina moldaram sua visão de mundo. A família Vargas era respeitada na região, e seu pai, Manuel, teve um papel importante na comunidade, o que influenciou a futura carreira política de Getúlio.

A vida em São Borja, com sua mistura de tradições e influências culturais, proporcionou a Getúlio uma base sólida para sua formação. A proximidade com a Argentina e a cultura gaúcha forte na região contribuíram para sua perspectiva única sobre política e sociedade.

Educação e Primeiros Passos na Carreira Militar

Aos 16 anos, Getúlio ingressou no Exército Brasileiro, iniciando sua formação militar na Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo, em 1900. Essa experiência foi crucial para sua compreensão das forças armadas e sua importância política. A disciplina e a hierarquia militar influenciaram seu estilo de liderança e governança.

Durante sua formação militar, Getúlio desenvolveu habilidades que seriam valiosas em sua carreira política, incluindo liderança e estratégia. A vida militar também o expôs a diferentes realidades sociais e econômicas do Brasil, ampliando sua visão política.

Formação em Direito e Influências Ideológicas

Em 1904, Getúlio matriculou-se na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, atual UFRGS, onde entrou em contato com as ideias positivistas e castilhistas. O positivismo de Auguste Comte e o pragmatismo político de Júlio de Castilhos influenciaram profundamente seu pensamento político e estilo de governança.

Durante seus anos de formação em direito, Vargas absorveu diversas influências ideológicas que moldaram sua visão política. O castilhismo, em particular, teve um impacto significativo em sua abordagem política, enfatizando a importância de um governo forte e centralizado.

A combinação de sua formação militar, educação em direito e as influências ideológicas da época preparou Getúlio Vargas para uma carreira política marcada por uma forte liderança e políticas nacionalistas.

Os Primeiros Passos na Política

getulio vargas sentado

Em 1909, Getúlio Vargas foi eleito deputado estadual, marcando o início de sua carreira política. Este momento foi crucial para sua trajetória, demonstrando sua habilidade para articulações políticas desde cedo.

Deputado Estadual e Federal

Getúlio Vargas iniciou sua carreira política ao ser eleito deputado estadual pelo Partido Republicano Riograndense (PRR) em 1909. Sua reeleição em 1913 foi seguida por uma renúncia ao segundo mandato em protesto às decisões de Borges de Medeiros, então presidente do Rio Grande do Sul. Vargas retornou à Assembleia Legislativa em 1917 e foi reeleito em 1919 e 1921.

Em 1923, Vargas foi eleito deputado federal e se tornou líder da bancada gaúcha na Câmara dos Deputados no Rio de Janeiro. Sua habilidade política e administrativa começou a ganhar reconhecimento nacional.

Ministro da Fazenda e Presidente do Rio Grande do Sul

O reconhecimento de suas habilidades políticas e administrativas levou Washington Luís a nomeá-lo Ministro da Fazenda em 15 de novembro de 1926. Vargas ocupou este cargo até 17 de dezembro de 1927, durante o Governo Washington Luís.

Em dezembro de 1927, Vargas foi eleito presidente do Rio Grande do Sul, assumindo o cargo em 25 de janeiro de 1928. Esta posição lhe deu a visibilidade e experiência executiva necessárias para almejar cargos mais altos na política nacional.

Ao longo de sua ascensão, Vargas demonstrou ser um político habilidoso e determinado. Sua experiência como deputado estadual e federal, Ministro da Fazenda, e presidente do Rio Grande do Sul preparou-o para os desafios futuros.

A Revolução de 1930 e a Ascensão ao Poder

A Revolução de 1930 foi um divisor de águas na carreira política de Getúlio Vargas, marcando o início de uma nova era no Brasil. Este evento crucial não apenas mudou o curso da história política do país, mas também teve um impacto profundo na sociedade brasileira.

A Crise da República Velha

A República Velha, que vigorou no Brasil desde a proclamação da República em 1889 até a Revolução de 1930, era caracterizada por um sistema político dominado pelas oligarquias cafeeiras de São Paulo e Minas Gerais. A chamada “política do café com leite” garantia a alternância no poder entre essas duas oligarquias, excluindo outras forças políticas do cenário nacional.

A crise econômica mundial de 1929 agravou os problemas estruturais do Brasil, criando um ambiente propício para mudanças políticas profundas. A queda nos preços do café e a consequente crise econômica afetaram não apenas os grandes proprietários de terra, mas também a classe média e os trabalhadores urbanos, aumentando o descontentamento com o regime vigente.

A Aliança Liberal e a Candidatura Presidencial

Em resposta à crise e ao descontentamento crescente, formou-se a Aliança Liberal, uma coligação que reunia forças políticas do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba. A Aliança Liberal lançou Getúlio Vargas como candidato à presidência em 1930, propondo reformas políticas e sociais como alternativa ao continuísmo das oligarquias tradicionais.

A candidatura de Vargas representou uma nova esperança para aqueles que buscavam mudanças no cenário político brasileiro. Embora tenha sido derrotado nas urnas por Júlio Prestes, o candidato apoiado pelo presidente Washington Luís, a Aliança Liberal não reconheceu o resultado e começou a conspirar contra o governo.

O Assassinato de João Pessoa e o Golpe de Estado

O assassinato de João Pessoa, vice de Getúlio Vargas na chapa da Aliança Liberal, em 26 de julho de 1930, foi o estopim para a eclosão da Revolução de 1930. Embora o assassinato não tivesse relação direta com a eleição presidencial, foi utilizado como pretexto para mobilizar forças militares e civis contra o governo federal.

O movimento revolucionário, iniciado em 3 de outubro de 1930, rapidamente ganhou força e, em menos de um mês, conseguiu depor Washington Luís e impedir a posse de Júlio Prestes. Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas foi nomeado presidente provisório do Brasil, marcando o início de uma nova era política no país.

Governo Provisório (1930-1934)

Getúlio Vargas, como presidente provisório, liderou o Brasil durante um período de grande turbulência e mudança, de 1930 a 1934. Esse período foi marcado por uma série de medidas centralizadoras que fortaleceram o poder federal em detrimento das oligarquias estaduais.

Uma das primeiras ações de Vargas foi dissolver o Congresso Nacional e as assembleias estaduais, nomeando interventores federais para governar os estados. Muitos desses interventores eram “tenentes” que haviam participado da Revolução de 1930. Essa medida gerou descontentamento em alguns estados, como São Paulo, que se sentiram prejudicados pela perda de poder.

Medidas Centralizadoras e Interventores Estaduais

O Governo Provisório de Vargas foi caracterizado por uma forte centralização do poder. Além de dissolver os órgãos legislativos, Vargas também nomeou interventores para governar os estados, muitos dos quais eram militares ou políticos alinhados com suas políticas.

Essas medidas foram vistas como uma ameaça às oligarquias estaduais, que haviam dominado a política brasileira durante a República Velha. A resistência a essas medidas culminou na Revolução Constitucionalista de 1932.

A Revolução Constitucionalista de 1932

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um movimento armado liderado pelo estado de São Paulo contra o Governo Provisório de Vargas. Os paulistas exigiam a convocação de uma Assembleia Constituinte e o fim do governo discricionário.

Apesar da derrota militar dos paulistas, o movimento conseguiu seu objetivo político principal: Vargas convocou eleições para a Assembleia Nacional Constituinte.

“A Revolução de 1932 foi um marco importante na luta pela redemocratização do Brasil e pela promulgação de uma nova Constituição.”

A Constituição de 1934

A Assembleia Nacional Constituinte promulgou a Constituição de 1934, que estabeleceu um regime democrático com voto secreto, voto feminino e criação da Justiça Eleitoral. Além disso, a nova Carta Constitucional incorporou direitos sociais e trabalhistas, refletindo a influência das constituições sociais europeias do pós-Primeira Guerra Mundial.

A Constituição de 1934 foi um importante passo na redemocratização do Brasil e na institucionalização das políticas trabalhistas iniciadas por Vargas.

Com a promulgação da Constituição, Vargas foi reeleito para mais quatro anos de governo de maneira indireta, consolidando sua posição como líder político no Brasil.

Governo Constitucional (1934-1937)

Sob o Governo Constitucional, Vargas buscou equilibrar a democracia com sua ambição de permanecer no poder. Esse período, que se estendeu de 1934 a 1937, foi marcado por uma complexa interação entre políticas econômicas, sociais e uma crescente polarização política.

Políticas Econômicas e Sociais

O Governo Constitucional de Getúlio Vargas foi caracterizado por uma intensificação da intervenção estatal na economia. Vargas implementou medidas protecionistas e investiu em infraestrutura para promover a industrialização do país. Além disso, as políticas sociais do período consolidaram avanços na legislação trabalhista, com a criação de institutos de previdência para diferentes categorias profissionais e a ampliação de direitos dos trabalhadores urbanos.

  • A intervenção estatal na economia visou promover a industrialização através de medidas protecionistas.
  • Investimentos em infraestrutura foram cruciais para o desenvolvimento econômico do país.
  • A legislação trabalhista foi aprimorada, com a criação de institutos de previdência e a ampliação de direitos trabalhistas.

A Polarização Política e a Intentona Comunista

A polarização política no Brasil durante esse período foi influenciada pelo cenário internacional, marcado pela ascensão de regimes totalitários na Europa. Movimentos de extrema-direita, como a Ação Integralista Brasileira (AIB), e de esquerda, como a Aliança Nacional Libertadora (ANL), surgiram e ganharam força. Em 1935, a ANL tentou tomar o poder por meio de um golpe, conhecido como a Intentona Comunista, que fracassou. Esse evento serviu como pretexto para Vargas implementar medidas de exceção, como o estado de sítio e a criação do Tribunal de Segurança Nacional.

A Intentona Comunista foi um divisor de águas, permitindo que Vargas começasse a estruturar um Estado autoritário. As medidas de exceção implementadas após o evento pavimentaram o caminho para o Estado Novo.

O Estado Novo: A Ditadura de Getúlio Vargas

getulio vargas com charuto

O Estado Novo, instaurado por Getúlio Vargas em 1937, representou um período marcante na história brasileira, caracterizado por uma ditadura autoritária. Esse regime foi marcado pela centralização do poder, repressão política e uma forte propaganda oficial.

O Plano Cohen e o Golpe de 1937

O golpe de Estado que deu início ao Estado Novo foi justificado pelo Plano Cohen, um documento forjado que supostamente detalhava uma conspiração comunista para tomar o poder. Esse pretexto permitiu que Vargas cancelasse as eleições presidenciais previstas para 1938 e consolidasse seu poder.

O Plano Cohen foi um elemento-chave na justificativa para o golpe, criando uma atmosfera de medo e instabilidade que favoreceu a tomada do poder por Vargas.

A Constituição de 1937 e o Fim das Liberdades Democráticas

A Constituição de 1937, também conhecida como a “Polaca” devido à sua inspiração na constituição autoritária da Polônia, concentrou poderes nas mãos do presidente. Ela extinguiu os partidos políticos, acabou com a independência dos poderes e suspendeu as liberdades civis, consolidando o caráter ditatorial do regime.

Com essa constituição, Vargas obteve o controle total sobre o aparato estatal, eliminando qualquer forma de oposição ou contestação.

Repressão aos Opositores e Censura

O Estado Novo foi caracterizado por uma forte repressão aos opositores políticos. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) foram os principais órgãos responsáveis pela censura e pela perseguição política.

A repressão incluiu práticas como a tortura e a prisão arbitrária de opositores, criando um clima de medo e submissão. Além disso, a propaganda oficial exaltava a figura de Vargas, construindo uma imagem pública de “pai dos pobres.”

O DIP teve um papel crucial na regulagem da informação, controlando o que era permitido ou não ser divulgado. Isso contribuiu para a manutenção do regime autoritário, limitando a liberdade de expressão e informação.

O Estado Novo representou a fase mais autoritária do governo de Getúlio Vargas, inspirada em modelos europeus como o fascismo italiano. Durante esse período, Vargas consolidou seu poder pessoal e implementou um regime ditatorial que durou até 1945.

A Política Trabalhista de Getúlio Vargas

Getúlio Vargas é lembrado por suas políticas trabalhistas que transformaram as relações de trabalho no Brasil. Durante o Estado Novo, Vargas governou por decretos-leis e, na área trabalhista, criou o salário mínimo e a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT).

A política trabalhista foi um dos pilares fundamentais do governo Vargas, estabelecendo um novo paradigma nas relações entre Estado, trabalhadores e empregadores no Brasil. Essa política visava reforçar a popularidade do seu governo através de medidas em benefício do trabalhador do operariado urbano.

A Criação da CLT e do Salário Mínimo

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), promulgada em 1º de maio de 1943, reuniu e sistematizou toda a legislação trabalhista existente, tornando-se o marco legal das relações de trabalho no Brasil até os dias atuais. Entre os direitos garantidos pela legislação varguista estavam:

  • o salário mínimo, instituído em 1940;
  • a jornada de oito horas;
  • férias remuneradas;
  • descanso semanal;
  • estabilidade no emprego;
  • proteção ao trabalho de mulheres e menores.

Essas medidas representaram um avanço significativo na proteção dos direitos dos trabalhadores brasileiros.

O Controle dos Sindicatos e o Trabalhismo

Paralelamente à concessão de direitos, Vargas implementou um rígido controle sobre os sindicatos, através da unicidade sindical (um único sindicato por categoria), da contribuição sindical obrigatória e da necessidade de reconhecimento pelo Ministério do Trabalho. O trabalhismo varguista representava uma tentativa de conciliar os interesses do capital e do trabalho sob a tutela do Estado, evitando a luta de classes e promovendo a harmonia social.

Depois de ser deposto, Vargas organizou a fundação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), partido focado no trabalhismo. Esse partido se tornou uma importante força política no Brasil, refletindo o legado de Vargas na política trabalhista.

O legado da política trabalhista de Getúlio Vargas permanece relevante na história do Brasil, influenciando as relações de trabalho e a legislação trabalhista até hoje.

O Brasil na Segunda Guerra Mundial

Durante o governo de Getúlio Vargas, o Brasil navegou por águas turbulentas da neutralidade até a participação ativa na Segunda Guerra Mundial. As relações exteriores do Brasil durante esse período se caracterizaram pela aproximação dos Estados Unidos e o progressivo afastamento dos países do Eixo, como Alemanha e Itália.

A posição inicial de neutralidade permitia que o Brasil mantivesse relações comerciais com ambos os lados do conflito. No entanto, eventos subsequentes, como o torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães, mudaram drasticamente a postura do país.

Da Neutralidade à Entrada no Conflito

Inicialmente, o Brasil manteve uma postura de neutralidade, o que permitia o comércio com ambos os lados do conflito. No entanto, essa neutralidade foi testada com o aumento da pressão internacional e incidentes como o torpedeamento de navios brasileiros.

A entrada oficial do Brasil na guerra ocorreu em agosto de 1942, após uma série de ataques a navios brasileiros por submarinos alemães e italianos. Esses ataques geraram uma onda de manifestações populares que pressionaram o governo a declarar guerra ao Eixo.

A barganha nacionalista foi uma política habilmente conduzida por Getúlio Vargas, utilizando a posição estratégica do Brasil no Atlântico Sul para negociar vantagens econômicas e militares com os Estados Unidos.

A FEB e os Acordos com os Estados Unidos

A Força Expedicionária Brasileira (FEB), composta por cerca de 25 mil homens, foi enviada à Itália em 1944. A FEB participou de importantes batalhas, como Monte Castello e Montese, sendo a única força latino-americana a combater na Europa.

Os acordos firmados com os Estados Unidos durante esse período resultaram em benefícios significativos para o desenvolvimento industrial brasileiro. Um exemplo notável foi o financiamento da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, inaugurada em 1946.

Como destacou Vargas, “A nossa participação na guerra foi um divisor de águas para o Brasil, marcando o início de uma nova era de desenvolvimento e integração internacional.”

Os acordos também incluíram o reequipamento das Forças Armadas brasileiras, modernizando sua capacidade militar.

  • A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi um marco importante no governo de Getúlio Vargas.
  • A Força Expedicionária Brasileira teve um papel crucial nas campanhas da Itália.
  • Os acordos com os Estados Unidos trouxeram significativos benefícios econômicos para o Brasil.

O Desenvolvimento Econômico e Industrial

O governo Vargas foi marcado por uma série de iniciativas que visaram impulsionar o desenvolvimento econômico e industrial do país. Durante seu governo, caracterizado pelo nacionalismo e o populismo, Vargas instaurou uma doutrina econômica de interferência estatal sobre a economia.

Nela, o Estado era o principal investidor e impulsor da economia nacional. Assim, por meio da aplicação de fundos para a criação de infraestrutura industrial, impulsionou principalmente estatais, mas também aquelas de capital privado.

A Criação da CSN e da Vale do Rio Doce

Um dos marcos importantes do desenvolvimento econômico durante a Era Vargas foi a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1941, em Volta Redonda. A CSN simbolizou o compromisso do governo Vargas com a industrialização pesada, fornecendo aço para impulsionar outros setores industriais e reduzir a dependência externa.

Além disso, a Companhia Vale do Rio Doce, fundada em 1942, nasceu como parte dos Acordos de Washington e representou a estratégia de Vargas de controlar recursos minerais estratégicos sob gestão estatal.

O Nacionalismo Econômico e as Estatais

O nacionalismo econômico varguista manifestou-se na criação de diversas empresas estatais e autarquias. Exemplos incluem o Conselho Nacional do Petróleo (1938), a Fábrica Nacional de Motores (1942) e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (1945).

Este modelo de desenvolvimento, baseado no tripé Estado-capital nacional-capital estrangeiro, com forte presença estatal em setores estratégicos, estabeleceu as bases do que seria posteriormente conhecido como “nacional-desenvolvimentismo” e influenciou a política econômica brasileira por décadas.

  • O desenvolvimento econômico e industrial durante a Era Vargas representou uma mudança fundamental na estrutura produtiva brasileira.
  • A transição de uma economia predominantemente agrário-exportadora para um modelo de industrialização por substituição de importações foi um marco importante.
  • A criação de empresas estatais foi crucial para o controle de recursos estratégicos e para impulsionar a industrialização.

O governo de Getúlio Vargas deixou um legado duradouro no desenvolvimento econômico e industrial do Brasil, com impactos que se estendem além de seu período no poder.

A Queda do Estado Novo em 1945

A deposição de Getúlio Vargas em 1945 encerrou uma era de autoritarismo no Brasil. O Estado Novo, que vigorava desde 1937, começou a enfrentar forte oposição tanto interna quanto externa, especialmente após a declaração de guerra ao Eixo.

A partir de 1943, com a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado das democracias ocidentais, as contradições do governo Vargas se tornaram mais explícitas. Várias associações civis e políticas passaram a contestar o modelo político do presidente e questioná-lo abertamente.

O Manifesto dos Mineiros e a Pressão pela Democratização

O Manifesto dos Mineiros, publicado em outubro de 1943 por intelectuais e políticos de Minas Gerais, foi o primeiro documento público de oposição ao Estado Novo. Ele reivindicava a redemocratização do país e marcou o início da reorganização das forças oposicionistas.

A pressão pela democratização intensificou-se com manifestações estudantis, pronunciamentos de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil e o I Congresso Brasileiro de Escritores, que em janeiro de 1945 exigiu “completa democratização do país”.

  • O Manifesto dos Mineiros foi um divisor de águas na luta pela redemocratização.
  • A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial evidenciou a contradição de lutar pela liberdade no exterior enquanto se vivia sob uma ditadura internamente.
  • Vargas tentou conduzir o processo de abertura política, anunciando eleições para dezembro de 1945.

A Deposição de Vargas pelos Militares

A deposição de Vargas pelos militares em 29 de outubro de 1945 foi precipitada pela nomeação de seu irmão, Benjamin Vargas, para a chefia de polícia do Distrito Federal. Esta ação foi interpretada como uma manobra continuísta, levando os generais Góes Monteiro e Eurico Dutra a exigirem sua renúncia.

Diante disso, Vargas renunciou sem resistência e se retirou para sua cidade natal, São Borja. Este evento marcou o fim do Estado Novo e o início de uma nova era política no Brasil.

O Retorno Democrático de Getúlio Vargas (1951-1954)

Em 1951, Getúlio Vargas retornou à presidência do Brasil, desta vez legitimado pelo voto popular. Seu retorno representou um novo capítulo na história política brasileira, com o ex-ditador agora consolidado como uma figura democrática.

A Campanha Eleitoral e a Vitória nas Urnas

A campanha eleitoral de 1950 foi marcada pelo slogan “Ele voltará”, com Vargas apresentando-se como o defensor dos trabalhadores e do desenvolvimento nacional. Ele conquistou uma expressiva vitória com 48,7% dos votos, demonstrando seu forte apoio popular.

  • Campanha centrada no nacionalismo e no trabalhismo
  • Uso do slogan “Ele voltará” como estratégia de marketing político
  • Apoio significativo dos trabalhadores e das classes populares

Políticas Nacionalistas e a Criação da Petrobras

No seu segundo governo, Vargas aprofundou as políticas nacionalistas, com destaque para a campanha “O Petróleo é Nosso”. Essa campanha culminou na criação da Petrobras em 1953, estabelecendo o monopólio estatal sobre a exploração e refino do petróleo.

Outras iniciativas importantes deste período incluíram a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e a proposta de criação da Eletrobrás, reforçando o papel do Estado como indutor do desenvolvimento.

A Oposição da UDN e de Carlos Lacerda

A oposição ferrenha da União Democrática Nacional (UDN) e do jornalista Carlos Lacerda, que utilizava seu jornal Tribuna da Imprensa para atacar diariamente o presidente, criou um clima de instabilidade política que marcou todo o segundo governo Vargas.

A oposição liderada por Carlos Lacerda foi incisiva, utilizando todos os meios disponíveis para desgastar a imagem do presidente e pressionar por sua renúncia.

O Atentado da Rua Tonelero e a Crise Final

O Atentado da Rua Tonelero foi um divisor de águas na história política do Brasil, marcando o início do fim do governo de Getúlio Vargas. Em 5 de agosto de 1954, o jornalista Carlos Lacerda, um dos principais opositores de Vargas, foi alvo de um atentado próximo à sua residência, na Rua Tonelero, no Rio de Janeiro.

O Ataque a Carlos Lacerda e a Morte do Major Vaz

Na madrugada do dia 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda foi atacado por pistoleiros. Embora tenha sobrevivido ao atentado, seu guarda-costas, o Major da Aeronáutica Rubens Vaz, foi morto. O crime chocou a nação e desencadeou uma onda de protestos contra o governo.

As investigações subsequentes apontaram Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas, como o mandante do crime. Essa revelação implicou diretamente o círculo íntimo do presidente, aumentando a pressão sobre Vargas.

A Pressão pelo Impeachment e o Isolamento Político

O Atentado da Rua Tonelero desencadeou uma crise política sem precedentes. A oposição exigiu o impeachment de Vargas, e setores militares, especialmente da Aeronáutica, pressionaram pela sua renúncia imediata.

  • A crise política se aprofundou com o isolamento de Vargas, que perdeu o apoio até de aliados históricos.
  • Um manifesto assinado por 27 generais do Exército exigiu a renúncia de Vargas, tornando sua posição insustentável.
  • O evento foi um marco na história política brasileira, levando ao suicídio de Vargas menos de três semanas depois.

Em agosto 1954, o governo Vargas enfrentava uma crise terminal, com Carlos Lacerda sendo uma figura central na oposição. O atentado na Rua Tonelero, no Rio de Janeiro, foi o estopim para a queda de Getúlio Vargas.

O Suicídio e a Carta-Testamento

No auge da crise política, Vargas escolheu o caminho extremo, deixando uma carta-testamento que mudaria a história. Em 24 de agosto de 1954, o Brasil foi sacudido pela notícia do suicídio de Getúlio Vargas no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.

Os Últimos Momentos no Palácio do Catete

Na madrugada de 24 de agosto de 1954, isolado politicamente e pressionado a renunciar, Getúlio Vargas tomou a decisão extrema de tirar a própria vida com um tiro no coração em seu quarto no Palácio do Catete. Nas horas que antecederam o suicídio, Vargas reuniu-se com ministros e familiares, redigiu sua famosa carta-testamento e, por volta das 8h30 da manhã, disparou contra o próprio peito com um revólver Colt calibre 32.

A decisão de Vargas foi vista como uma estratégia drástica para evitar um golpe militar, que estava sendo discutido pelos chefes das Forças Armadas. Sua atitude foi entendida como um ato de resistência e um gesto extremo de protesto contra as pressões políticas que sofria.

O Impacto da Carta-Testamento na Política Brasileira

A carta-testamento, documento de forte teor emocional e político, transformou o que seria uma derrota em vitória política póstuma, ao apresentar Vargas como vítima de “forças ocultas” e interesses internacionais que se opunham às suas políticas nacionalistas. O impacto do suicídio foi imediato e avassalador: uma onda de comoção popular tomou conta do país, com manifestações de pesar que se transformaram em protestos violentos contra os opositores de Vargas.

A morte dramática de Vargas e sua carta-testamento redefiniram o cenário político brasileiro, fortalecendo o trabalhismo e o nacionalismo, frustrando os planos da oposição e garantindo a sobrevivência do legado varguista na política brasileira por décadas. O velório de Vargas mobilizou milhares de pessoas nas ruas do Rio de Janeiro, e os adversários políticos de Vargas foram alvo da fúria popular.

  • A carta-testamento de Vargas é lembrada até hoje como um dos momentos mais marcantes da história política do Brasil.
  • O suicídio de Vargas foi um divisor de águas na política brasileira, influenciando gerações de políticos e movimentos sociais.

O Legado de Getúlio Vargas para o Brasil Moderno

Getúlio Vargas deixou um impacto duradouro na história do Brasil, moldando instituições e políticas que perduram até hoje. Sua influência se estende por diversas áreas, desde a economia até a política social, deixando um legado complexo e multifacetado.

Instituições e Empresas que Sobrevivem até Hoje

Muitas das instituições criadas durante a Era Vargas continuam a desempenhar papéis fundamentais na sociedade brasileira. A Justiça do Trabalho, a Petrobras, o BNDES (antigo BNDE), a Vale (antiga Vale do Rio Doce) e o IBGE são exemplos notáveis de como o governo Vargas moldou o cenário econômico e social do país.

A legislação trabalhista implementada por Vargas, especialmente a CLT, permanece como a espinha dorsal das relações de trabalho no Brasil. Mesmo após diversas reformas ao longo das décadas, a CLT continua a ser uma referência importante.

A Influência do Getulismo na Política Brasileira

O getulismo deu origem a tradições que marcaram profundamente a história brasileira, como o trabalhismo e o nacional-desenvolvimentismo. Essas ideologias influenciaram líderes e movimentos políticos até os dias atuais, mostrando a duradoura influência de Vargas na política nacional.

A memória de Vargas ainda é predominantemente associada à imagem de “pai dos pobres,” um legado que continua a influenciar a política brasileira. Em 15 de setembro de 2010, Vargas foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, reconhecendo seu impacto na história do Brasil.

Entre o Autoritarismo e o Populismo: Como Entender Getúlio Vargas Hoje

Vargas é um personagem multifacetado, cuja influência na história brasileira ainda é debatida. Sua trajetória política, marcada por períodos de autoritarismo e políticas populistas, continua a gerar discussões acaloradas entre historiadores e cientistas políticos.

A compreensão de Getúlio Vargas hoje requer uma análise que vá além das visões maniqueístas, reconhecendo tanto suas contribuições para a modernização do Brasil quanto os aspectos autoritários de seu governo. Vargas governou o Brasil de 1930 a 1945 e novamente de 1950 a 1954, deixando um legado complexo.

Um dos aspectos mais significativos de sua presidência foi a capacidade de combinar carisma pessoal, pragmatismo e habilidade para negociar com diferentes grupos sociais. Esse estilo político estabeleceu um paradigma de liderança que influenciou diversos presidentes brasileiros posteriores.

A dualidade entre o “pai dos pobres” e o ditador que reprimiu opositores políticos é um tema central na análise de seu governo. Essa dualidade reflete as próprias contradições da sociedade brasileira e permanece como um tema relevante na história política do país.

Ao analisar o legado de Getúlio Vargas no século XXI, é fundamental considerar o contexto histórico em que atuou, as transformações que promoveu na sociedade brasileira e as contradições de um líder que, entre 19 de abril de 1882 e 24 de agosto de 1954, ajudou a moldar o Brasil contemporâneo com suas virtudes e seus defeitos.

O governo Vargas foi marcado por significativas mudanças econômicas e sociais, incluindo a criação da CLT e do salário mínimo, que tiveram um impacto duradouro na sociedade brasileira. No entanto, seu regime também foi caracterizado por períodos de repressão política e censura.

A tensão entre desenvolvimento econômico e democracia, presente durante toda a Era Vargas, permanece como um tema central na história política brasileira. Essa tensão ecoa em diferentes momentos da trajetória do Brasil como nação.

Em conclusão, entender Getúlio Vargas hoje significa reconhecer a complexidade de sua figura e o impacto multifacetado de seu governo. Sua história continua a ser relevante para a compreensão da política e da sociedade brasileira contemporânea.

Compartilhe

Deixe seu comentário

Posts Relacionados