Um nome que ressoa na história da música e cultura brasileiras, Edy Star foi um verdadeiro ícone de sua época, deixando uma marca indelével na sociedade.
Nascido em Juazeiro, Bahia, em 10 de janeiro de 1938, Edivaldo Souza, conhecido artisticamente como Edy Star, foi um multifacetado artista que se destacou como cantor, compositor, ator, dançarino, produtor teatral, apresentador de televisão e artista plástico.
Sua contribuição vai além de sua arte; Edy Star foi um pioneiro na luta pela liberdade de expressão e identidade, sendo um dos primeiros artistas brasileiros a assumir publicamente sua homossexualidade.
Com uma carreira que atravessou décadas, Edy Star deixou um legado que continua a inspirar novas gerações, não apenas por sua música e disco “Sweet Edy”, mas também por sua coragem e determinação.
Os Primeiros Anos de Edivaldo Souza

A infância de Edivaldo Souza foi um período crucial para o desenvolvimento de suas habilidades artísticas. Em Salvador, ele foi exposto a uma rica tapeçaria cultural que influenciou profundamente sua trajetória.
Infância e Juventude em Salvador
Durante sua infância, Edivaldo desenvolveu uma grande paixão pela música. Em sua casa, passava horas ouvindo as rádios Nacional e Mayrink Veiga, além de programas locais da Rádio Sociedade da Bahia, como “A Hora da Criança,” comandado por Adroaldo Ribeiro Costa. Seu pai, observando o talento de Edivaldo, o levava frequentemente aos estúdios do programa.
Essas experiências não apenas o inspiraram, mas também o prepararam para futuras apresentações no palco. Em casa, Edivaldo improvisava microfones e espaços de apresentação no quintal, onde cantava com seus irmãos, demonstrando sua vocação para os palcos.
Primeiras Experiências Artísticas
A primeira experiência formal de Edivaldo no palco ocorreu aos 13 anos, quando seu pai o inscreveu para participar do programa “A Hora da Criança.” Durante os ensaios no Passeio Público de Salvador, ele teve suas primeiras aulas de teatro e participou da montagem de operetas baseadas na obra de Monteiro Lobato.
Como destacou posteriormente, essas experiências foram fundamentais para sua formação artística. A combinação de música, teatro e apresentações ao vivo moldou sua identidade como artista.
A influência dessas experiências iniciais pode ser vista em sua carreira posterior, onde ele se destacou como um pioneiro do Glam Rock brasileiro e um ícone queer.
Do Circo aos Palcos: O Início da Carreira
A carreira de Edivaldo Souza, conhecido posteriormente como Edy Star, teve início em ambientes circenses e teatrais, marcando o começo de uma jornada artística singular.
A Experiência na Petrobras e a Vida no Circo
Edivaldo Souza iniciou sua trajetória artística no circo, um ambiente que lhe proporcionou experiências únicas e o ajudou a desenvolver suas habilidades performáticas. A vida no circo foi crucial para sua formação como artista, ensinando-lhe disciplina e criatividade.
Paralelamente, sua passagem pela Petrobras, embora breve, contribuiu para sua diversificação artística. Essa experiência inicial foi fundamental para que Edivaldo compreendesse as diversas facetas da arte e do espetáculo.
Companhia Baiana de Comédias e Primeiros Reconhecimentos
Após sua experiência no circo, Edivaldo ingressou na Companhia Baiana de Comédias, com a qual percorreu o interior de diversos estados nordestinos apresentando peças teatrais. Essa jornada itinerante o levou até Pernambuco, onde, a partir de 1966, estabeleceu-se gradualmente na cidade de Olinda.
Foi durante essa época que Edivaldo protagonizou, ao lado de Teca Calazans, o musical “Memórias de Dois Cantadores,” um sucesso de crítica que conquistou diversos prêmios no Festival de Teatro de Pernambuco de 1968. Esse espetáculo foi um marco em sua carreira, consolidando-o como um artista de talento reconhecido no cenário cultural nordestino.
- Ao ingressar na Companhia Baiana de Comédias, Edivaldo expandiu seus horizontes artísticos e aprimorou suas habilidades teatrais.
- O musical “Memórias de Dois Cantadores” foi um divisor de águas em sua carreira, resultando em prêmios como Melhor Musical, Melhor Figurino e Melhor Conjunto.
- Essas apresentações teatrais não apenas destacaram seu talento, mas também contribuíram para a rica cena cultural da região Nordeste.
Edy Star e a Cena Musical Baiana dos Anos 60
Durante os anos 60, Edy Star se destacou como um ícone da música baiana. Morando no bairro de Boa Viagem, em Salvador, Edy Star se envolveu com diferentes círculos musicais, mostrando sua versatilidade e talento.
Edy Star conheceu Waldir Serrão e ingressou no Elvis Club Rock, um clube de apreciadores de rock and roll, onde teve contato com um jovem Raul Seixas, então com apenas 15 anos de idade. Essa experiência foi crucial para sua formação musical.
Encontros com Caetano Veloso e Gilberto Gil
Nessa época, Edy Star também conheceu Caetano Veloso e Gilberto Gil, passando a frequentar festas e eventos com esses artistas. Essa aproximação permitiu que Edy desenvolvesse uma abordagem musical eclética, absorvendo influências tanto do rock quanto da bossa nova.
A interação com esses músicos foi fundamental para a carreira de Edy Star, permitindo que ele se destacasse em uma cena musical vibrante e diversificada.
Entre o Rock e a Bossa Nova
A posição de Edy Star entre o rock e a bossa nova permitiu que ele desenvolvesse uma identidade musical única. Apesar de sua proximidade com os artistas que formariam o movimento tropicalista, Edy manteve uma trajetória paralela.
Essa dualidade é exemplificada quando Edy Star optou por apresentar um show de folclore na Galeria Bazarte, enquanto outros artistas baianos inauguravam o Teatro Vila Velha com o espetáculo “Nós, Por Exemplo…”.
Essa escolha refletiu a diversidade da música baiana da época, mostrando a capacidade de Edy Star de navegar entre diferentes estilos e anos de influências musicais.
A Sociedade da Grã-Ordem Kavernista
A Sociedade da Grã-Ordem Kavernista representou um marco importante na carreira de Edy Star, reunindo talentos como Raul Seixas e Sérgio Sampaio. Essa colaboração resultou em uma das experiências musicais mais inovadoras da época, misturando música, arte e performances.
A Parceria com Raul Seixas e Sérgio Sampaio
A parceria entre Edy Star, Raul Seixas, e Sérgio Sampaio foi fundamental para a criação da Sociedade da Grã-Ordem Kavernista. Juntos, eles produziram um material rico e diversificado, que refletia a criatividade e a ousadia do grupo. As gravações foram realizadas em um período intenso entre junho e julho de 1971.
Essa colaboração não apenas mostrou a versatilidade dos artistas envolvidos mas também destacou a capacidade de criar algo novo e impactante. A presença de Edy Star trouxe uma dimensão adicional ao projeto, com sua personalidade carismática e estilo único.
O Álbum “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das10”
O álbum “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das10” foi lançado em 21 de julho de 1971 e contou com 12 faixas, intercaladas por vinhetas humorísticas. A produção foi liderada por Raul Seixas e Mauro Motta, com arranjos de Ian Guest.
Apesar do impacto inicial e das críticas positivas de figuras como Torquato Neto e Luiz Carlos Maciel, o álbum teve sua distribuição interrompida pela gravadora menos de dois meses após o lançamento. Esse fato não diminuiu a importância do projeto, que permanece como um marco na discografia dos envolvidos.
O Nascimento de Edy Star: Cabarés e Boates
A cena noturna do Rio de Janeiro foi onde Edy Star encontrou seu espaço, transformando cabarés e boates em palcos para sua arte inovadora.
Edy Star começou a se apresentar em locais emblemáticos, ganhando reconhecimento e abrindo caminho para futuras oportunidades.
Shows na Praça Mauá e o Reconhecimento de O Pasquim
Edy Star se destacou nos shows realizados na Praça Mauá, onde sua performance única chamou a atenção de público e crítica. O Pasquim, uma publicação conhecida por sua cobertura cultural, reconheceu o talento de Edy Star, contribuindo para sua crescente fama.
- Apresentações memoráveis na Praça Mauá consolidaram a reputação de Edy Star.
- O reconhecimento por O Pasquim foi um marco importante na carreira de Edy Star.
Da Periferia para a Zona Sul: Number One e Up’s
O sucesso de Edy Star na Praça Mauá abriu portas para que ele se apresentasse em casas noturnas da Zona Sul carioca, como a prestigiada boate Number One. Lá, Edy montou um trio instrumental e contou com o apoio vocal de Áurea Martins e Djavan.
O show de Edy Star na Number One era conhecido por sua performance provocativa do bolero “Hipócrita,” que incluía interações ousadas com a plateia.
- A boate Number One foi um importante palco para Edy Star, atraindo a elite social e cultural do Rio de Janeiro.
- O sucesso de Edy Star nesse período foi marcado por sua originalidade e talento, culminando em um contrato com a gravadora Som Livre.
Sweet Edy: O Pioneirismo do Glam Rock Brasileiro
Influenciado pelo glam rock internacional, Edy Star lançou “Sweet Edy”, um divisor de águas na música brasileira. Este álbum não apenas representou a influência de artistas como David Bowie, Alice Cooper, e Marc Bolan (do T. Rex) mas também consolidou Edy Star como um pioneiro do glam rock no Brasil.
A Produção do Álbum com João Araújo
A produção do álbum “Sweet Edy” foi um processo cuidadoso, realizado em parceria com João Araújo. Lançado em 1974, o álbum reuniu composições exclusivas de grandes nomes da MPB.Edy Starinterpretou canções que se tornariam marcos na discografia brasileira, como “Edith Cooper” de Gilberto Gil e “O Conteúdo” de Caetano Veloso. A colaboração com esses artistas consagrados estabeleceu um diálogo único entre o universo transgressor de Edy Star e a obra de artistas estabelecidos.
Colaborações com Grandes Nomes da MPB
As colaborações presentes em “Sweet Edy” são notáveis. Além de Gilberto Gil e Caetano Veloso, Roberto Carlos contribuiu com “Claustrofobia,” demonstrando a capacidade de Edy Star de transitar entre diferentes vertentes da música brasileira. Essas parcerias não apenas enriqueceram o álbum mas também destacaram a versatilidade de Edy Star como intérprete. A música “Claustrofobia” mostrou como Edy conseguia reinterpretar composições de diferentes estilos, dando-lhes uma nova roupagem.
Edy Star definiu-se como um “cabareteiro,” preferindo interpretar cada música conforme sua essência, em vez de se limitar a um gênero específico. Com o passar dos anos, “Sweet Edy” foi redescoberto e valorizado, sendo relançado em 2011 pela gravadora Joia Moderna. Esse relançamento consolidou seu status como uma obra importante na história da música brasileira, influenciando novas gerações de artistas.
O álbum “Sweet Edy” permanece como um marco do glam rock brasileiro, uma testemunha da capacidade de Edy Star de inovar e influenciar a música nacional.
The Rocky Horror Show e a Carreira Teatral
Além de sua participação no “Rocky Horror Show”, Edy Star desenvolveu uma sólida carreira no teatro. Sua trajetória foi marcada por diversas produções que circularam pelo Brasil e internacionalmente.
O Sucesso no Teatro Musical
Edy Star’s success in musical theater was notable, particularly with his involvement in “The Rocky Horror Show”. This experience not only showcased his talent but also contributed to his reputation as a versatile artista.
A participação de Edy Star nesse musical foi um divisor de águas em sua carreira, consolidando sua presença nos palcos brasileiros e preparando o terreno para futuros projetos teatrais.
Outras Produções Teatrais e Direção
Além de “The Rocky Horror Show”, Edy Star dirigiu, escreveu e participou de várias outras peças de teatro. Notáveis são “A Gargalhada do Peru” e “O Belo Indiferente”, de Jean Cocteau.
Essas produções demonstraram sua versatilidade como diretor e artista, capaz de trabalhar com diferentes estilos e textos. “A Gargalhada do Peru” percorreu vários estados brasileiros entre 1986 e 1988, enquanto “O Belo Indiferente” o levou ao Festival de Teatro em Primavera de Madri em 1992.
Um aspecto interessante de sua carreira teatral foi a parceria com Jorge Lafond, que mais tarde se tornou conhecido por sua personagem Vera Verão. Edy Star montou um musical com Lafond e Leda Lúcia, inicialmente para ajudar um amigo a ingressar no sindicato dos artistas. Esse trabalho revelou o talento de Lafond e foi o berço da personagem Vera Verão.
Primeiro Artista Assumidamente Gay do Brasil
Em 1975, Edy Star concedeu uma entrevista revolucionária à revista Fatos & Fotos, tornando-se o primeiro artista brasileiro a se assumir gay. Esse ato de coragem não apenas marcou sua carreira, mas também teve um impacto significativo na luta LGBTQ+ no Brasil.
A Entrevista à Revista Fatos & Fotos
A entrevista concedida por Edy Star à revista Fatos & Fotos foi um marco importante. Ao se assumir publicamente homossexual, Edy desafiou os valores conservadores da época e abriu caminho para outros artistas LGBTQ+. Sua coragem em falar abertamente sobre sua sexualidade foi um ato de resistência contra a repressão e a censura impostas pela ditadura militar.
Ao assumir sua homossexualidade, Edy Star não apenas se posicionou contra a hipocrisia social, mas também inspirou uma geração de artistas a serem autênticos.
Enfrentando a Censura e a Ditadura Militar
Durante a ditadura militar, Edy Star enfrentou forte repressão. Junto com outros artistas como Ney Matogrosso e Maria Alcina, foi censurado por três anos e impedido de aparecer na televisão e nos jornais. A censura não era apenas pelo conteúdo de suas músicas, mas pela sua imagem considerada “atentatória à moral e bons costumes”.
- A repressão da ditadura militar via na imagem e performance de Edy Star uma ameaça aos valores morais conservadores.
- Edy Star foi frequentemente convocado para interrogatórios na Censura Federal para justificar elementos de seus shows.
- Mesmo após o fim oficial da ditadura, a perseguição continuou de forma velada até o início dos anos 1990.
A pesar da repressão, a carreira de Edy Star resistiu, marcada pela irreverência e coragem.
Exílio na Espanha e Carreira Internacional
Com um misto de desespero e esperança, Edy Star chegou à Espanha, um país que se tornaria seu lar por quase duas décadas e meia. Essa decisão de deixar o Brasil foi um divisor de águas em sua vida e carreira.
A Decisão de Deixar o Brasil
A escolha de Edy Star de se exilar na Espanha foi motivada pelas adversidades que enfrentava no Brasil. A perseguição e a censura que sofria como artista LGBTQ+ o levaram a buscar refúgio em um país mais acolhedor. “No dia seguinte, ela me levou pro trabalho, que era uma boate de samba. Nessa época, os europeus eram encantados por samba,” recordou Edy Star, destacando a receptividade que encontrou.
Vinte e Quatro Anos no Exterior
Edy Star rapidamente se adaptou à vida na Espanha. Em apenas três dias, conseguiu emprego como cantor em uma boate de samba em Madri, e em um mês já tinha um empresário. Sua carreira internacional se desenvolveu de forma itinerante, trabalhando em diferentes cidades espanholas a cada mês. Posteriormente, foi contratado pelo Cabaré Chelsea, em Madri, como diretor de shows, um cargo que consolidou sua posição no país.
- O que começou como uma fuga desesperada se transformou em uma nova fase na vida e carreira de Edy Star.
- Logo após sua chegada, Edy foi introduzido ao circuito de boates de samba em Madri.
- Com seu talento e experiência, conseguiu emprego como cantor apenas três dias após chegar à Espanha.
Durante seu longo período no exterior, Edy Star não apenas sobreviveu profissionalmente, mas também encontrou um ambiente mais acolhedor para sua arte e identidade. Após 24 anos, Edy retornou ao Brasil e retomou sua carreira de cantor, com apresentações e o lançamento de um novo disco, Cabaré Star, em 2017.
O Retorno ao Brasil e o Reconhecimento de um Ícone
O retorno de Edy Star ao Brasil foi um marco importante na música nacional, simbolizando a volta de um ícone queer e pioneiro do glam rock. Após 24 anos vivendo na Espanha, Edy Star retornou ao Brasil no início dos anos 2000, retomando sua carreira musical com renovada energia.
Um dos destaques de sua volta foi a participação no show “Toca Raul” em 2009, durante a Virada Cultural de São Paulo, uma homenagem a Raul Seixas, seu amigo e parceiro musical. Em 2011, seu disco Sweet Edy foi relançado pela gravadora Joia Moderna, apresentando sua obra pioneira para novas gerações.
Edy Star continuou a inovar com o lançamento do álbum Cabaré Star em 2017, demonstrando sua vitalidade artística. Em 2023, lançou o CD “Meu amigo Sérgio Sampaio“, interpretando canções do parceiro da Sociedade da Grã-Ordem Kavernista, com participações especiais de Zeca Baleiro e Maria Alcina.
Esses projetos reafirmam Edy Star como um ícone cultural, celebrando sua contribuição para a música brasileira e seu legado como um artista pioneiro e influente.