Chorão – O Poeta do Skate e do Rock

Alexandre Magno Abrão, conhecido pelo seu nome artístico Chorão, foi uma figura emblemática no cenário musical brasileiro.

Como vocalista e principal letrista da banda Charlie Brown Jr., ele deixou um legado que mistura rock, skate punk, rap e reggae, criando um estilo único.

Sua trajetória foi marcada por altos e baixos, refletindo sua personalidade intensa tanto nas composições quanto na vida pessoal.

Além da música, Chorão foi um apaixonado pelo skate, esporte que influenciou profundamente sua identidade artística.

Este artigo revisita a vida e obra deste artista multifacetado que continua sendo uma referência importante na música brasileira, mesmo após sua partida em 2013.

A Trajetória de Alexandre Magno Abrão

chorao do grupo charlie brown jr

Nascido em 9 de abril de 1970, Alexandre Magno Abrão enfrentou uma infância difícil no bairro Vila Rosa, em São Paulo. Sua vida foi marcada por desafios desde cedo.

Origens e Infância em São Paulo

Alexandre Magno Abrão nasceu em um contexto familiar que logo enfrentaria turbulências. Com apenas 11 anos, seus pais se separaram, e ele começou a enfrentar dificuldades financeiras. Sua mãe trabalhava como doméstica e fazia pastéis para complementar a renda familiar, enquanto o jovem Alexandre ajudava entregando as encomendas.

Os anos escolares foram turbulentos para o futuro músico. Ele estudou em escolas estaduais até a sétima série e depois tentou continuar os estudos em Santos, mas acabou abandonando a educação formal.

  • Nascido em uma família que enfrentava desafios financeiros.
  • Enfrentou a separação dos pais aos 11 anos.
  • Estudou em escolas estaduais até a sétima série.

Os Desafios da Juventude

Aos 14 anos, Alexandre enfrentou um momento crítico quando sua mãe sofreu um derrame, evento que marcou profundamente sua adolescência e contribuiu para seu amadurecimento precoce. A época foi marcada por conflitos, incluindo problemas com a polícia e dificuldades de adaptação social.

Em março de 1989, sua vida tomou um rumo decisivo com o nascimento de seu filho Alexandre, o que o forçou a buscar estabilidade e assumir responsabilidades. Ele trabalhou em diversos empregos, incluindo como corretor de imóveis na banda imobiliária de seu pai.

Esses anos de desafios formaram o caráter do futuro líder da Charlie Brown Jr., moldando sua visão de mundo e alimentando a autenticidade que seria marca registrada de suas composições.

A Paixão pelo Skate

Com apenas 14 anos, Chorão encontrou no skate uma paixão que o acompanharia por toda a vida. O skate não foi apenas um hobby ou um esporte para ele; tornou-se uma parte integral de sua identidade e influenciou significativamente sua carreira musical no Charlie Brown Jr.

Primeiros Contatos com o Esporte

O primeiro skate de Chorão foi montado artesanalmente com um shape velho e rodas de patins, mostrando seu espírito criativo e a simplicidade de suas origens. Ele começou a praticar skate com um grupo do Parque Ibirapuera em São Paulo. Inicialmente, sua motivação era pertencer ao grupo, mas logo ele começou a competir e a se destacar, alcançando posições de topo em campeonatos.

A sua dedicação ao skate era notável, e ele frequentemente alcançava as primeiras posições, mesmo enfrentando desafios como equipamentos inferiores.

Influência do Skate em sua Identidade Artística

A cultura do skate teve um impacto profundo na identidade artística de Chorão. Como vocalista do Charlie Brown Jr., ele incorporou a filosofia do skate – que inclui liberdade, autenticidade e resistência ao mainstream – em suas letras e na estética da banda.

O skate representava para Chorão um estilo de vida descontraído e uma forma de expressão que complementava perfeitamente sua música. Essa fusão única entre música e esporte criou uma conexão genuína com os fãs que compartilhavam da mesma paixão.

Do What’s Up ao Charlie Brown Jr.

chorao cantando em show

Em um bar de Santos chamado Creperie, Alexandre Magno Abrão, conhecido como Chorão, teve seu primeiro contato com o mundo da música de forma espontânea. Aos 21 anos, após uma desilusão amorosa, Chorão subiu ao palco e improvisou uma canção do Suicidal Tendencies, impressionando os presentes.

Primeiras Experiências Musicais

A entrada de Chorão no mundo da música aconteceu de forma inusitada. Após sua apresentação improvisada no Creperie, ele foi convidado para uma audição na banda What’s Up. Foi nesse momento que Chorão conheceu o jovem baixista Champignon, que mais tarde se tornaria um membro fundamental do Charlie Brown Jr.

No What’s Up, Chorão começou a desenvolver suas habilidades musicais e a construir sua identidade como artista. Embora a banda What’s Up não tenha sido sua primeira escolha, foi um importante passo em sua carreira.

A Formação da Banda que Revolucionou o Rock Nacional

A banda Charlie Brown Jr. nasceu oficialmente em 1992, quando Chorão e Champignon convidaram o baterista Renato Pelado. Posteriormente, Marcão e Thiago Castanho completaram a formação original. O nome da banda surgiu de forma curiosa: após Chorão trombar com uma barraca de água de coco que tinha o desenho do personagem Charlie Brown, ele decidiu batizar o grupo, acrescentando o “Jr.” por se considerarem “filhos do rock”.

A sonoridade única do Charlie Brown Jr. mesclava influências de bandas como Sublime, Bad Brains e 311, criando uma fusão inovadora de hardcore, skate punk, rap e reggae. As primeiras apresentações do grupo aconteceram em Santos e São Paulo, especialmente em campeonatos de skate, consolidando a conexão entre a música da banda e a cultura do skateboard.

A formação da banda foi um marco importante no cenário musical brasileiro, pois trouxe uma nova energia e uma identidade única que reverberou profundamente entre os jovens da época.

Chorão e sua Influência na Música Brasileira

O impacto de Chorão na música brasileira é profundo, refletindo sua capacidade de criar letras autênticas e conectar-se com os fãs. Como vocalista e principal letrista do Charlie Brown Jr., ele conseguiu criar um estilo único que mesclava elementos de rock, rap, reggae e hardcore.

Estilo Musical e Letras Autênticas

Chorão revolucionou a música brasileira ao criar um som que era ao mesmo tempo autêntico e inovador. Suas letras retratavam o cotidiano urbano, os relacionamentos e as dificuldades sociais com uma sinceridade crua que conectava profundamente com os fãs.

Alguns pontos-chave sobre o estilo musical de Chorão incluem:

  • Criação de um estilo único que misturava rock, rap, reggae e hardcore.
  • Letras autênticas que retratavam a realidade urbana e as experiências juvenis.
  • Incorporação de gírias e expressões regionais, legitimando o português coloquial nas letras de rock.

Sucessos que Marcaram Gerações

O sucesso comercial do Charlie Brown Jr. foi expressivo, com dez discos lançados e mais de cinco milhões de cópias vendidas. Canções como “Dias de Luta, Dias de Glória”, “Só os Loucos Sabem” e “Céu Azul” se tornaram verdadeiros hinos geracionais.

Os principais sucessos da banda incluem:

  • “O Côro Vai Comê!”
  • “Proibida pra Mim (Grazon)”
  • “Tudo que Ela Gosta de Escutar”

A influência de Chorão na música brasileira vai além do sucesso comercial, ajudando a legitimar o rock nacional e inspirando novas gerações de músicos e fãs.

Vida Pessoal e Relacionamentos

A vida pessoal de Chorão foi marcada por eventos significativos que influenciaram sua trajetória artística. Seus relacionamentos familiares e amorosos desempenharam um papel crucial em sua vida, refletindo-se em sua música e personalidade.

Família e Paternidade

Em 1989, o nascimento de seu filho Alexandre foi um ponto de virada em sua vida, motivando-o a buscar estabilidade profissional. “Seu pai não tinha dinheiro, queria ajudar, mas não tinha dinheiro, sua mãe era doente (sofreu um derrame na década de 1980), não tinha condição de estudar, não conseguia emprego fixo por não ter se formado em nada, tinha um filho. Então tinha que fazer alguma coisa da sua vida.”

A paternidade trouxe novas responsabilidades, levando Chorão a trabalhar em diversos empregos para sustentar seu filho, apesar das dificuldades.

O Relacionamento com Graziela Gonçalves

Chorão teve um relacionamento significativo com a estilista Graziela Gonçalves, com quem foi casado por aproximadamente 15 anos. A canção “Céu Azul”, um dos maiores sucessos do Charlie Brown Jr., foi inspirada nela. Em dezembro de 2012, Chorão confessou no Caldeirão do Huck que ainda gostava de Graziela.

Após sua morte em março de 2013, Graziela revelou que Chorão lutava contra a dependência de cocaína, um problema que se intensificou em 2005. A separação do casal em 2012 foi uma tentativa de fazê-lo enfrentar seus problemas.

“Ele não era dependente de crack, mas sim de cocaína”, afirmou Graziela em uma entrevista, destacando a complexidade dos desafios pessoais enfrentados pelo cantor.

Polêmicas e Controvérsias

chorao em show

Uma das figuras mais emblemáticas do rock brasileiro, Chorão também foi conhecido por suas controvérsias. Sua carreira como vocalista do Charlie Brown Jr. foi marcada por diversos incidentes que geraram grande repercussão.

Conflitos com Outros Artistas

Um dos conflitos mais notórios envolvendo Chorão foi com Marcelo Camelo, vocalista da banda Los Hermanos. Em março de 2004, Camelo criticou a participação de Chorão em um comercial da Coca-Cola, afirmando que o Charlie Brown Jr. representava um estilo musical que os Los Hermanos combatiam. O confronto escalou durante um encontro em um avião em julho de 2004, culminando em uma agressão física no aeroporto de Fortaleza.

Este incidente resultou em dois processos judiciais movidos pelos Los Hermanos contra Chorão. A tensão entre as bandas foi amplamente divulgada pela mídia, afetando a imagem pública de ambos os artistas.

Tensões Dentro do Charlie Brown Jr.

Além dos conflitos com outros artistas, Chorão também enfrentou tensões dentro da própria banda. Em 2005, ele se desentendeu com todos os integrantes originais do Charlie Brown Jr., levando à saída de Champignon, Marcão e Pelado.

Após a dissolução da formação original, Chorão contratou novos músicos, tornando-se o único remanescente da formação inicial. Mesmo após a reconciliação e retorno de Champignon e Marcão ao grupo seis anos depois, os conflitos persistiram.

Em um show realizado em 2012, em Apucarana, no Paraná, Chorão fez um discurso contra o baixista Champignon no meio da apresentação, acusando-o de ter retornado à banda apenas por dinheiro. Essas polêmicas, embora tenham manchado em parte sua imagem pública, também contribuíram para a construção do mito em torno de Chorão como um artista autêntico e sem filtros.

As controvérsias envolvendo Chorão são lembradas como parte de sua personalidade complexa e são objeto de homenagem por muitos fãs e músicos. Sua banda, Charlie Brown Jr., permanece como uma das mais influentes do rock nacional, e Chorão é lembrado como um vocalista carismático e determinado.

Além da Música: Empreendimentos e Projetos

A versatilidade de Chorão foi demonstrada através de vários projetos além da música. Como cantor e músico da banda Charlie Brown Jr., ele já havia conquistado o cenário musical brasileiro, mas sua criatividade e visão empreendedora o levaram a explorar outros campos.

Um dos exemplos notáveis foi o lançamento de suas próprias marcas de roupas, a DO.CE. e La Plata, em 2009. Essas marcas refletiam seu estilo pessoal e a estética associada ao universo do skate e do rock, expandindo sua influência para além da música.

Marcas de Roupas e Negócios

Em 2009, Chorão lançou suas marcas de roupas, que se tornaram uma extensão de sua identidade artística. As marcas não apenas refletiam seu estilo, mas também se tornaram uma forma de conectar-se com seus fãs em um nível mais pessoal.

Além disso, Chorão foi garoto-propaganda da Coca-Cola em 2002, divulgando a promoção “No Estilo”. Essa parceria culminou no projeto “Estúdio Coca-Cola” em 2006, um programa veiculado na MTV que promovia encontros musicais inusitados.

O Filme “O Magnata” e Outras Produções

Um de seus projetos mais ambiciosos foi o filme “O Magnata”, lançado em 2007, que Chorão roteirizou. O filme abordava temas como fama, relacionamentos e os bastidores do mundo do rock, em uma narrativa que muitos consideram parcialmente autobiográfica.

Em março de 2008, o Charlie Brown Jr. participou do “Estúdio Coca-Cola”, se apresentando ao lado de Vanessa da Mata, criando uma fusão entre rock e MPB. Essas aparições em programas de TV e participações em projetos audiovisuais ajudaram a consolidar sua imagem além do circuito musical, com vídeos e fotos que circulavam amplamente nas redes sociais da época.

Esses empreendimentos paralelos não apenas diversificaram sua carreira, mas também serviram como plataformas para difundir sua visão artística e perpetuar seu legado, sendo hoje objeto de homenagem por fãs que colecionam itens de suas marcas e compartilham conteúdos relacionados em redes dedicadas à memória da banda Charlie Brown Jr.

O Legado Eterno de Chorão no Rock Brasileiro

Chorão deixou um legado eterno no rock nacional, que permanece relevante até hoje. A morte de Alexandre Magno Abrão, o ‘Chorão’ da banda Charlie Brown Jr., em 6 de março de 2013, foi um evento que chocou o Brasil e encerrou prematuramente a carreira de um dos mais importantes vocalistas do rock brasileiro.

O corpo de Chorão foi encontrado por seu motorista, Kleber “Tiozão” Atalla, em seu apartamento no bairro de Pinheiros, em São Paulo. O laudo do Instituto Médico Legal confirmou que a causa da morte foi uma overdose de cocaína, substância com a qual o cantor lutava havia anos. A depressão devido à separação de sua esposa, Graziela Gonçalves, agravou seus problemas com drogas nos meses que antecederam sua morte.

A cada março, especialmente no dia 6, as redes sociais são inundadas com homenagens de fãs, músicos e celebridades que compartilham fotos, vídeos e mensagens relembrando o legado do artista. Em 2023, ao completar 10 anos de sua morte, o Charlie Brown Jr. continuou vivo na memória dos brasileiros, com os ex-integrantes da banda realizando shows especiais em homenagem ao vocalista.

O Santos Futebol Clube, time do coração de Chorão, regularmente presta homenagens ao cantor em suas redes sociais, publicando fotos do artista com a camisa do clube e mensagens como “12 anos sem Alexandre Magno Abrão, o nosso Chorão”. Seu legado transcende a música e se estende à cultura do skate, à moda e ao comportamento de toda uma geração, com frases de suas canções sendo frequentemente citadas e tatuadas por fãs.

A história de Chorão continua inspirando novos artistas e sendo revisitada em documentários, livros e projetos audiovisuais. Mesmo após anos de sua partida, o impacto cultural de Chorão permanece vivo, com suas músicas continuando a acumular milhões de visualizações nas plataformas digitais.

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