O falecimento de Abdullah Ahmad Badawi aos 85 anos marca o fim de uma era na política da Malásia. Ele se tornou o quinto primeiro-ministro do país em 2003, após a renúncia de Mahathir Mohamad.
Sua trajetória política foi notável por uma abordagem moderada do islamismo e esforços para combater a corrupção. Como líder, ele enfrentou desafios significativos, mas deixou um legado duradouro.
A vida e carreira de Abdullah Ahmad Badawi são fundamentais para entender a evolução da política malaia contemporânea.
Quem foi Abdullah Ahmad Badawi

Abdullah Ahmad Badawi é uma figura proeminente na história política da Malásia. Sua contribuição para o país é lembrada por suas políticas e ações durante seu mandato como primeiro-ministro.
Origens e formação
Abdullah Ahmad Badawi nasceu em uma família envolvida na política. Ele ingressou na política através do partido UMNO (Organização Nacional dos Malaios Unidos), a principal força política do país desde a independência. Sua formação acadêmica e envolvimento familiar na política moldaram sua carreira política.
Carreira política inicial
Abdullah ocupou diversos cargos ministeriais importantes no governo malaio, incluindo Ministro da Educação, Ministro da Defesa e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Como Ministro dos Negócios Estrangeiros, ele desenvolveu habilidades diplomáticas valiosas.
- Ingressou na política pelo partido UMNO.
- Desempenhou vários cargos ministeriais.
- Construiu uma rede de aliados políticos.
Sua lealdade ao partido e ao sistema político o posicionou como um sucessor natural para Mahathir Mohamad.
Ascensão ao poder na Malásia
Abdullah Ahmad Badawi ascendeu ao cargo de primeiro-ministro da Malásia em 2003, sucedendo Mahathir Mohamad após 22 anos de liderança.
Este momento marcou uma transição significativa na política malaia, com Abdullah herdando tanto os sucessos quanto os desafios deixados por seu predecessor.
Sucessão de Mahathir Mohamad
A sucessão de Mahathir Mohamad por Abdullah Ahmad Badawi foi um processo que refletiu as dinâmicas internas do partido governante, a UMNO.
Abdullah, conhecido por sua abordagem moderada, foi visto como uma figura capaz de dar continuidade às políticas de Mahathir, ao mesmo tempo em que prometia uma gestão mais aberta e transparente.
Contexto político da época
No início dos anos 2000, a Malásia enfrentava vários desafios políticos e econômicos.
- A crise financeira asiática de 1997-1998 ainda tinha efeitos residuais na economia.
- O cenário internacional pós-11 de setembro trouxe novos desafios para um país de maioria muçulmana como a Malásia.
- Havia uma crescente demanda por contexto histórico e reformas políticas que abrissem mais espaço para a sociedade civil.
Esses fatores criaram um contexto político complexo que Abdullah precisou navegar ao assumir o cargo.
Abdullah como primeiro-ministro
Abdullah Ahmad Badawi iniciou seu mandato com uma série de reformas políticas e religiosas que buscavam posicionar a Malásia como um modelo de nação muçulmana moderna.
Principais políticas e reformas
Como premiê, Abdullah embarcou em uma campanha anticorrupção e adotou uma versão moderada do islamismo. Suas principais políticas incluíam:
- Promover a transparência e a responsabilidade no governo.
- Fomentar o desenvolvimento econômico sustentável.
- Melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Essas medidas visavam combater a corrupção e promover o progresso econômico e tecnológico.
Abordagem ao islamismo moderado
A abordagem de Abdullah ao islamismo foi caracterizada pelo conceito de “Islam Hadhari” ou Islamismo Civilizacional. Esta filosofia promovia uma interpretação progressista do Islã, enfatizando dez princípios fundamentais, incluindo fé e piedade, governo justo, e desenvolvimento econômico.
Abdullah buscou promover o diálogo inter-religioso e a tolerância religiosa em um país multiétnico e multirreligioso, tentando equilibrar as sensibilidades dos diferentes grupos.
Desafios e controvérsias do governo
O governo de Abdullah Ahmad Badawi enfrentou vários desafios significativos durante seu mandato. Embora tenha iniciado seu governo com grande popularidade, logo se viu cercado por controvérsias e críticas.
Campanha anticorrupção
Uma das principais iniciativas de Abdullah foi a campanha anticorrupção. No entanto, essa campanha foi criticada por ser inconsistente e não abordar adequadamente os casos de corrupção de alto nível.
- A falta de ações concretas contra figuras poderosas levantou suspeitas sobre a eficácia da campanha.
- Grupos de direitos civis criticaram a falta de transparência nos processos de investigação.
Críticas e oposição política
Abdullah enfrentou forte oposição política durante seu mandato. A decisão de reduzir os subsídios aos combustíveis resultou em uma forte alta nos preços, provocando protestos generalizados.
Além disso, seu antecessor, Mahathir Mohamad, tornou-se um de seus críticos mais vocais, acusando-o de enfraquecer o legado deixado.
- A coalizão opositora liderada por Anwar Ibrahim ganhou força, capitalizando o descontentamento popular.
- Dentro do próprio partido UMNO, facções rivais começaram a questionar sua liderança, especialmente após o fraco desempenho nas eleições de 2008.
Declínio político e renúncia
As eleições de 2008 marcaram um ponto de inflexão crítico na carreira política de Abdullah Ahmad Badawi. O desempenho do partido de Abdullah, a Organização Nacional dos Malaios Unidos (UMNO), foi significativamente afetado, levando a uma perda de apoio popular.
Eleições de 2008 e perda de apoio
Após os resultados eleitorais de 2008, Abdullah inicialmente resistiu às pressões para renunciar. No entanto, eventualmente concordou com um plano de transição gradual.
- A perda de apoio popular foi um fator crucial para a decisão de Abdullah de não concorrer à reeleição como presidente do UMNO.
- Em outubro de 2008, Abdullah anunciou que não concorreria à reeleição, efetivamente sinalizando sua saída como primeiro-ministro.
Transição de poder para Najib Razak
A transição de poder para Najib Razak foi um processo gradual. Najib, então vice-primeiro-ministro e filho do segundo primeiro-ministro da Malásia, foi o sucessor natural.
- A transição formal ocorreu em 3 de abril de 2009, quando Abdullah apresentou sua renúncia ao rei da Malásia.
- A cerimônia de posse de Najib Razak marcou o fim do mandato de seis anos de Abdullah como primeiro-ministro, concluindo a transição de poder e iniciando uma nova era na política malaia sob a liderança de Najib.
O legado de Abdullah na política malaia
Abdullah Ahmad Badawi deixou um legado multifacetado na política da Malásia, marcado por tentativas de reforma e desafios significativos. Sua tentativa de implementar reformas moderadas e combater a corrupção, embora não totalmente bem-sucedida, estabeleceu precedentes importantes para futuros líderes.
O conceito de “Islam Hadhari” representou uma contribuição significativa ao discurso sobre o papel do Islã em estados modernos e multiétnicos. Além disso, seu governo marcou uma breve abertura democrática entre os períodos mais autoritários de Mahathir Mohamad e as controvérsias que marcariam o governo de Najib Razak.
As eleições de 2008, ocorridas durante seu mandato, transformaram permanentemente o cenário político malaio, acabando com o domínio incontestável do Barisan Nasional. Historiadores e analistas políticos frequentemente o descrevem como um líder bem-intencionado cujas reformas foram prejudicadas por forças políticas entrincheiradas e pela resistência à mudança.
A avaliação histórica do governo de Abdullah Ahmad Badawi destaca seu impacto histórico na política malaia, mostrando tanto os avanços quanto os desafios que ele enfrentou.
Os últimos anos e falecimento
Abdullah Ahmad Badawi, figura importante na história política da Malásia, faleceu em outubro de 2023, aos 85 anos. Nos seus últimos anos, enfrentou problemas de saúde, incluindo demência, o que limitou suas aparições públicas. Após deixar o cargo de primeiro-ministro em 2009, adotou um perfil discreto. Seu falecimento ocorreu no Instituto Nacional do Coração, em Kuala Lumpur, devido a dificuldades respiratórias. Líderes políticos prestaram homenagens, reconhecendo sua contribuição para o desenvolvimento da Malásia.