Um dos nomes mais marcantes da política brasileira do século XX, conhecido por seu estilo incendiário e oratória contundente, Carlos Lacerda deixou uma marca indelével na história do Brasil.
Como tribuno da imprensa, utilizou sua posição para influenciar a política nacional, tornando-se uma figura central nos acontecimentos que moldaram o país.
Sua vida foi marcada por episódios dramáticos, como o Atentado da Rua Tonelero, que teve um impacto significativo na política nacional.
Este artigo explora a complexa trajetória de Lacerda, desde suas origens até seu legado como figura central na imprensa e no exercício do poder.
Origens Familiares e Primeiros Anos

Desde cedo, Carlos Lacerda esteve imerso em um ambiente politizado, o que influenciou suas escolhas futuras. A influência de sua família foi crucial em sua formação.
Nascimento e Família Influente
Carlos Lacerda nasceu em uma família que teve um papel significativo na política brasileira. Seu pai e tios eram figuras proeminentes no Partido Comunista Brasileiro, o que o expôs ao marxismo desde jovem.
A família de Lacerda era conhecida por suas convicções políticas fortes, o que criou um ambiente de discussão e debate político em sua casa. Essa exposição precoce ao mundo político e às ideologias de esquerda moldou sua visão de mundo e influenciou suas escolhas acadêmicas e profissionais.
Educação e Formação Intelectual
Carlos Lacerda teve acesso a uma educação de qualidade, estudando em boas escolas no Rio de Janeiro. Em 1929, ingressou no curso de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade do Rio de Janeiro, onde se destacou como um orador brilhante e participou ativamente do movimento estudantil de esquerda.
Durante seu período universitário, Lacerda envolveu-se intensamente com o Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, o que o levou a abandonar o curso de Direito em 1932 sem concluí-lo. Sua formação intelectual foi fortemente influenciada pelo marxismo, seguindo os passos de seu pai e tios.
Aos anos de formação foram decisivos para moldar sua capacidade oratória e seu estilo combativo, características que o acompanhariam por toda a vida.
Essas experiências iniciais foram fundamentais para a carreira de Carlos Lacerda, preparando-o para seu papel futuro como um dos principais líderes políticos do Brasil.
Da Militância Comunista ao Conservadorismo
Em 1939, Carlos Lacerda rompeu com o movimento comunista, iniciando uma jornada que o levaria a se tornar um dos principais nomes da direita política no país. Essa mudança ideológica foi profunda e teve implicações significativas em sua trajetória política.
Atuação na Aliança Nacional Libertadora
Antes de sua ruptura com o comunismo, Carlos Lacerda teve uma atuação destacada na Aliança Nacional Libertadora (ANL), um movimento político que reunia diversas forças de esquerda. Sua participação na ANL foi marcada por uma intensa militância, demonstrando seu compromisso com as causas defendidas pelo movimento.
A ANL era uma frente ampla que buscava combater o fascismo e o integralismo no Brasil, e Lacerda se destacou como um dos principais oradores e articuladores do movimento.
A Ruptura com o Marxismo em 1939
A ruptura de Carlos Lacerda com o marxismo em 1939 foi um evento marcante em sua trajetória. Ele justificou sua decisão afirmando que o comunismo “levaria a uma ditadura, pior do que as outras, porque muito mais organizada, e, portanto, muito mais difícil de derrubar.”
Essa transformação ideológica foi acompanhada por uma intensificação de seu talento como orador e polemista, características que o tornariam um dos principais nomes da chamada “Banda de música da UDN.”
O Jornalista Carlos Lacerda e a Tribuna da Imprensa
In 1949, Carlos Lacerda founded Tribuna da Imprensa, a newspaper that would become synonymous with his combative style. This marked a significant turning point in his career as a journalist and politician.
Fundação do Jornal em 1949
The founding of Tribuna da Imprensa in 1949 was a crucial moment in Carlos Lacerda’s professional life. It provided him with a platform to express his views and critique the political landscape of Brazil at the time.
The newspaper quickly gained notoriety for its bold stance against corruption and authoritarianism, reflecting Lacerda’s own political convictions.
- The newspaper was known for its incisive reporting and editorials that directly challenged the status quo.
- Under Lacerda’s direction, Tribuna da Imprensa became a voice for opposition to Getúlio Vargas’s government.
O Estilo Incendiário e Combativo
Carlos Lacerda’s journalistic style at Tribuna da Imprensa was characterized by its incendiary prose and direct attacks on political adversaries. As historians Lilia Schwarcz and Heloísa Starling noted, Lacerda was a master of political intrigue, using his words to surprise, accuse, and ridicule his opponents.
The Tribuna da Imprensa was not just a news outlet but a tool for political combat, with Lacerda using it to launch ferocious attacks on Getúlio Vargas, accusing him of being the “gerente-geral da corrupção no Brasil.” This campaign contributed to the political crisis that ultimately led to Vargas’s suicide in 1954.
Lacerda’s style, though controversial, earned him both fervent admirers and implacable enemies, cementing his place as a significant figure in Brazilian political history.
O Confronto com Getúlio Vargas
O confronto entre Carlos Lacerda e Getúlio Vargas foi um dos mais emblemáticos da história política brasileira. Este embate não se limitou ao campo político, estendendo-se à imprensa e culminando em eventos trágicos que mudaram o curso da história do Brasil.
A Campanha Anti-Getulista na Imprensa
Carlos Lacerda foi um dos principais opositores de Getúlio Vargas, utilizando sua influência na imprensa para criticar duramente o governo Vargas. Através do jornal Tribuna da Imprensa, Lacerda liderou uma campanha anti-getulista, denunciando supostas corrupções e abusos de poder.
A campanha na imprensa foi intensa e mobilizou a opinião pública contra Vargas. Lacerda acusava o governo de autoritarismo e corrupção, o que contribuiu para o aumento das tensões políticas.
O Atentado da Rua Tonelero e suas Consequências
Na noite de 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda foi vítima de um atentado a bala na porta do prédio onde residia, na Rua Tonelero, número 180, no bairro de Copacabana. O Atentado da Rua Tonelero resultou na morte do major da Aeronáutica Rubens Vaz, que fazia parte de um grupo de oficiais que protegiam Lacerda.
Lacerda sobreviveu com um ferimento leve no pé, mas imediatamente acusou “os homens do Palácio do Catete” como mandantes do crime. As investigações conduzidas pela Aeronáutica implicaram Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas, e Benjamim Vargas, irmão do presidente.
O atentado e as subsequentes investigações aumentaram a pressão sobre Getúlio Vargas. Dezenove dias após o atentado, em 24 de agosto de 1954, Vargas cometeu suicídio, deixando uma carta-testamento que reverteu a opinião pública e provocou uma onda de comoção e revolta popular contra Lacerda e seus aliados.
Atuação Política na Quarta República
A Quarta República foi um período de grande agitação política para Carlos Lacerda, que se destacou por suas ações contundentes e sua liderança na UDN. Durante esse período, Lacerda se envolveu em diversas controvérsias e movimentos políticos, consolidando sua reputação como um líder aguerrido.
O Papel na UDN e a “Banda de Música”
Carlos Lacerda teve um papel destacado na União Democrática Nacional (UDN), partido que representava a oposição mais conservadora ao getulismo e, posteriormente, ao trabalhismo de Vargas. Lacerda foi um dos líderes da chamada “Banda de Música” da UDN, grupo que se destacava por sua retórica inflamatória e oposição ferrenha aos governos da época.
A atuação de Lacerda na UDN foi marcada por sua oratória contundente e sua capacidade de mobilizar a opinião pública contra os adversários políticos do partido.
Oposição a Juscelino Kubitschek e o Movimento de 11 de Novembro
Após o suicídio de Getúlio Vargas, Carlos Lacerda rapidamente redirecionou seus ataques para Juscelino Kubitschek, candidato à presidência pela aliança PSD-PTB nas eleições de 1955. Lacerda utilizou seu jornal para veicular denúncias contra Juscelino Kubitschek e João Goulart, incluindo o episódio da “Carta Brandi”, um documento supostamente falso que acusava Goulart de contrabandear armas da Argentina para o Brasil.
- Lacerda articulou com militares e políticos da UDN o chamado Movimento de 11 de Novembro, uma tentativa de golpe para impedir a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart.
- A conspiração foi frustrada pela ação do general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra, que liderou um “contragolpe preventivo” para garantir a posse dos eleitos.
Derrotado em sua tentativa golpista, Lacerda partiu para um breve exílio em Cuba, retornando posteriormente ao Brasil para reassumir seu mandato de deputado federal e continuar sua oposição ao governo de Juscelino Kubitschek, envolvendo-se com militares e planejando um golpe contra o presidente.
Governador da Guanabara (1960-1965)
Carlos Lacerda assumiu o cargo de governador da Guanabara em 1960, iniciando um período de significativas mudanças na cidade. Seu governo foi marcado por uma série de reformas e políticas que visaram modernizar e organizar a então capital do Brasil.
Reformas Administrativas e Obras Públicas
Durante seu mandato, Lacerda implementou reformas administrativas que buscavam tornar o governo mais eficiente e menos burocrático. Além disso, seu governo foi caracterizado por um grande investimento em obras públicas, visando melhorar a infraestrutura da cidade.
Essas obras incluíram a construção de novas vias de transporte, melhorias nos sistemas de abastecimento de água e saneamento básico, e a expansão de serviços públicos essenciais. Tais iniciativas tinham como objetivo não apenas modernizar a cidade, mas também melhorar a qualidade de vida de seus habitantes.
Políticas Habitacionais e Remoção de Favelas
O governo de Carlos Lacerda na Guanabara também foi marcado por uma controversa política habitacional que incluía a remoção sistemática de favelas de áreas valorizadas da cidade do Rio de Janeiro. Entre as comunidades removidas durante sua gestão estavam a Favela do Esqueleto, onde hoje se localiza o campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e a Favela do Pasmado, na zona sul carioca.
Para realocar as populações removidas, o governo Lacerda construiu grandes conjuntos habitacionais na periferia da cidade, como a Cidade de Deus, a Vila Kennedy e a Vila Aliança, financiados pelo programa norte-americano Aliança para o Progresso. No entanto, essas políticas resultaram no deslocamento de comunidades inteiras para áreas distantes dos centros de emprego e com infraestrutura precária.
Como destacou um crítico da época, “a remoção de favelas, embora apresentada como solução para o problema habitacional, acabou por criar novos desafios para os moradores.” Essa política, apesar de suas intenções, teve consequências duradouras na cidade e em seus habitantes.
Participação no Golpe de 1964
A participação de Carlos Lacerda no golpe de 1964 foi caracterizada por sua postura combativa e articulações estratégicas com setores militares e civis. Este evento marcou um ponto de inflexão na história política brasileira, e Lacerda esteve no centro das ações que levaram à deposição do presidente João Goulart.
Articulações com Militares e Civis
Durante os meses que antecederam o golpe, Carlos Lacerda esteve intensamente envolvido em articulações com militares e civis que se opunham ao governo de João Goulart. Essas articulações foram fundamentais para a construção de um movimento amplo e diversificado que apoiava a intervenção militar.
Lacerda utilizou sua influência e seu jornal, a Tribuna da Imprensa, para mobilizar a opinião pública contra o governo, denunciando supostas ameaças à democracia e à ordem pública. Sua atuação foi crucial para galvanizar o apoio civil ao golpe.
O Entrincheiramento no Palácio Guanabara
No dia 1º de abril de 1964, Carlos Lacerda se entrincheirou no Palácio Guanabara, sede do governo estadual, com a Polícia Militar e voluntários civis, preparando-se para resistir a um possível ataque dos fuzileiros navais comandados pelo almirante Cândido Aragão.
Em um discurso inflamado transmitido por rádio, Lacerda atacou violentamente o almirante Aragão, desafiando-o e ameaçando matá-lo pessoalmente caso se aproximasse do palácio. O ataque nunca se concretizou, pois Aragão não recebeu autorização do presidente Goulart para agir.
A cena do governador entrincheirado, empunhando um revólver e fazendo discursos inflamados, contribuiu para a construção da imagem heroica que Lacerda tentou projetar de si mesmo como um dos líderes civis da “revolução” de 1964.
Da Ruptura com o Regime Militar à Frente Ampla
Em 1966, Carlos Lacerda surpreendeu a todos ao lançar um movimento de resistência ao regime militar que havia apoiado inicialmente. Esse movimento ficou conhecido como a Frente Ampla.
Desilusão com a Ditadura
A desilusão de Lacerda com o regime militar começou a se manifestar claramente ao perceber que a ditadura não tinha intenção de restaurar a democracia no Brasil. A Frente Ampla representou um divisor de águas em sua trajetória política, marcando sua oposição aberta ao regime.
Em novembro de 1966, Lacerda lançou oficialmente a Frente Ampla, um movimento que reunia antigos adversários políticos, como Juscelino Kubitschek e João Goulart, em torno do objetivo comum de restaurar a democracia no país.
Aliança com Antigos Adversários: JK e Jango
A aliança entre Lacerda, Kubitschek e Goulart foi vista como improvável, dado o histórico de conflitos entre eles durante a Quarta República. No entanto, a Frente Ampla demonstrou a capacidade de Lacerda de reinventar-se politicamente, abandonando antigas rivalidades em nome de um objetivo maior.
A Frente Ampla defendia o retorno à normalidade democrática, a revogação dos atos institucionais, a promulgação de uma nova constituição e a realização de eleições diretas para presidente da República.
“A Frente Ampla foi um movimento de resistência que uniu brasileiros em torno da democracia.”
O movimento foi proibido pelo governo Costa e Silva em abril de 1968, e Lacerda teve seus direitos políticos cassados com a edição do AI-5 em dezembro do mesmo ano. Mesmo assim, a Frente Ampla permanece como um símbolo da resistência contra a ditadura militar no Brasil.
Os Últimos Anos e o Legado de Carlos Lacerda
Carlos Lacerda’s legacy remains a complex and multifaceted aspect of Brazilian political history. After his political rights were revoked in December 1968, Lacerda dedicated himself to his business ventures, notably the Nova Fronteira publishing house, which became a significant cultural institution in Brazil.
Lacerda’s life was marked by his passionate and sometimes controversial political stance. He passed away on May 21, 1977, due to a myocardial infarction. The proximity of his death to that of other key figures of the Frente Ampla sparked speculation about potential foul play, though this was never confirmed.
The evaluation of Lacerda’s legacy is divided: some view him as a champion of public morality, while others see him as an opportunist who contributed to the democratic instability that led to the military dictatorship. In 1987, a decade after his death, Lacerda was posthumously reinstated with national honors that had been revoked in 1968, symbolizing a historical reconciliation.